O Jornal Nacional acaba de dar cinco minutos sobre a navegação no Rio São Francisco, terceira de uma série de reportagens feitas pelo repórter José Raimundo. Na introdução, o apresentador Willliam Bonner informou que a presidência da CNBB enviou uma carta ao presidente Lula pedindo que reconsidere a decisão de promover a transposição das águas (ver adiante o texto da carta), mas não disse nada a respeito da greve de fome iniciada há três dias pelo bispo da diocese de Barra, na Bahia, Dom Luiz Cappio, que recebeu apoio da mesma Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
A reportagem desta quarta-feira tratou dos problemas de assoreamento do leito do rio e das dificuldades que o problema cria para a navegação. O jornalista Marco Antônio Coelho, editor executivo da revista do Instituto de Estudos Avançados da USP, autor de um livro sobre o São Francisco que será lançado em outubro, criticou a TV Globo pela omissão (ver entrevista abaixo).
Eis a notícia dada no site da CNBB sobre a carta dos bispos ao presidente da República:
“A presidência da CNBB enviou carta ao presidente Lula apelando < Apelamos para a sua responsabilidade de Presidente da República, para adiar o início das obras de transposição do rio e garantir, antes de tudo, a sua revitalização>>, dizem os bispos.” Mídia demora a dar greve de fome O jornalista Marco Antônio Coelho, autor de um livro sobre o Rio São Francisco a ser lançado em outubro, cobra do Jornal Nacional, da TV Globo, que iniciou na segunda-feira uma série de reportagens sobre o Rio São Francisco, uma cobertura ampla do debate sobre o projeto de transposição das águas do rio. O Jornal Nacional, constata Marco Antônio, ainda não noticiou a greve de fome feita pelo bispo da diocese de Barra, na Bahia, Dom Luiz Cappio, para protestar contra o projeto de transposição da águas do São Francisco. Nesta quarta-feira, terceiro dia da greve de fome, ela foi brevemente noticiada no Jornal Hoje, da Globo. À tarde, a Band News exibiu reportagem sobre o movimento de protesto do bispo. O Globo Online deu notas sobre a greve de fome e sobre o apoio dado a ela pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB. Marco Antônio considera insuficiente a cobertura da mídia sobre o projeto de transposição. Ex-dirigente do antigo Partido Comunista Brasileiro, ex-deputado federal, ele é editor executivo da revista do Instituto de Estudos Avançados da USP. Eis a entrevista de Marco Antônio Coelho ao Observatório da Imprensa. M.A.C. – Estou muito preocupado, nestes últimos dias, com a greve de fome do bisp da diocese de Barra, Dom Frei Luiz Cáppio, desde segunda-feira, dia 26 [em Cabrobó, Pernambuco]. Ele só terminará essa greve de fome se o presidente Lula não iniciar as obras da transposição do São Francisco. Essa decisão do bispo da diocese de Barra foi de uma enorme importância, porque colocou com relevo a exigência de uma modificação na política do governo. Qual é sua principal crítica à maneira como o governo encaminha o projeto? M.A.C. – A decisão de fazer a transposição sem uma consulta, sem uma discussão mais ampla com a sociedade, é um absurdo inominável, daí a justeza da posição do bispo de Barra. É necessário um apoio que mostre que ele não é uma figura isolada, pelo contrário, ele expressa um desejo de amplos setores da população, particularmente no São Francisco, contra esse projeto governamental. O senhor considera adequada a cobertura jornalística do assunto? M.A.C. – Pelo menos a partir de São Paulo e do Rio, pelos jornais que eu leio do Rio, não se está dando a devida importância a isso, quando esse é um problema de fundamental significado para grandes camadas da população, particularmente os que moram nos estados banhados pelo São Francisco. Que tipo de iniciativa poderia ter a mídia para melhorar esse panorama? M.A.C. – Estou acompanhando nos últimos dias a série que a TV Globo está fazendo. Os dois primeiros, na segunda-feira e na terça, foram muito bons documentários. Mas eu tenho receio de que a partir de agora eles apresentem o tema da transposição. A gente conhece a Globo, sabe como recebe muitas verbas do governo. Acho interessante que no próprio Jornal Nacional, desde segunda-feira, eles nem sequer noticiaram essa greve de fome do bispo de Barra. Estranho, isso. Uma greve de fome de um bispo, que pode levá-lo à morte, e a verdade é que não está repercutindo. Não há o devido destaque na imprensa aqui de São Paulo. Vamos ver se agora de noite a TV Globo aborda isso. O Jornal Hoje deu uma notícia curta na hora do almoço desta quarta-feira e à tarde a Band News fez reportagem sobre a greve de fome do bispo. M.A.C. – Ah, que bom. Seu livro (Os Descaminhos do São Francisco) trata do problema da transposição? M.A.C. – Tem um capítulo sobre a transposição. Mas eu examino outros problemas de fundamental importância sobre o São Francisco. Isso resulta de uma pesquisa de três anos. Há fatos que não são sequer lembrados, e que são de uma enorme importância, como o episódio da construção da represa de Sobradinho, um projeto executado sem uma ampla discussão no governo do Garrastazu Médici, período em que o regime militar estava mais forte. Eu acho que era necessária uma represa no Médio São Francisco, mas o local foi errado e isso levou a um prejuízo tremendo para a população local. Nota de 29/9: o jornal O Globo dá hoje uma nota sobre a greve de fome do bispo de Barra. Nota de 29/9, 21 horas: o Jornal Nacional noticiou a greve de fome, mensagem da CNBB para Lula contra a transposição e resposta do ministro Ciro Gomes, segundo o qual D. Geraldo Majella, presidente da Conferência, havia elogiado o projeto.