Trata-se de uma adaptação ao jornalismo das teorias do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, autor do best seller Modernidade Líquida , no qual ele defende a tese de que a sociedade contemporânea já não vive mais agarrada a coisas sólidas e tem que se acostumar com uma realidade fluida, onde tudo é mutável e multifacético. A idéia do jornalismo líquido é muito interessante porque ela transplanta para a profissão toda a complexidade do novo ambiente social no qual estamos começando a viver. Um exemplo é o processo de contextualização de uma notícia, na qual o jornalista pesquisa causas, consequências, beneficiados e prejudicados. Neste processo geralmente o profissional acaba enfrentando uma grande perplexidade, porque descobre diferentes percepções e interpretações de um mesmo fato ou processo, sem ter tempo para examiná-los em detalhe. Um dos maiores pesquisadores do chamado jornalismo liquido é o professor holandês Mark Deuze que acaba de publicar um texto, ainda não traduzido para o inglês, onde ele analisa a crise na imprensa mundial e a desorientação que tomou conta de muitos jornalistas em consequência das mudanças radicais no ambiente de trabalho provocadas pela inovação tecnológica e pela internet. Aguardo a publicação do texto em inglês para poder fazer uma análise mais detalhada do artigo, porque, por enquanto, só existem resenhas feitas a partir do original em holandês. Mas de qualquer maneira a idéia de transpor para o jornalismo as idéias de Bauman é um esforço inovador e que, no caso da Holanda, já provocou um apaixonado debate entre os profissionais locais, conforme relata Deuze em seu blog. O jornalismo é uma profissão conservadora em seus métodos e rotinas. Quase todos nós sabemos disto por experiência própria. Na maioria das redações os profissionais preferem as rotinas seguras e conhecidas porque nelas a possibilidade de erro é menor e consequentemente também o risco de uma demissão e do desemprego. Por isto é natural que idéias revolucionárias como a do jornalismo líquido provoquem muita discussão. Isto é inevitável num ambiente em que a avalancha informativa gerada pela internet complicou muito a análise de fatos e processos, pois ficou quase impossível dizer que algo é 100% errado ou 100% certo. Um repórter ou editor publica uma matéria e em seguida começam as correções, críticas e queixas manifestadas através de correio eletrônico, chats e blogs. Para um profissional que se formou com a idéia de que ele sabe mais do que os outros, ficar exposto e vulneravel é uma sensação desconfortável. Por outro lado, os editores chefes e executivos passaram a conviver com a incômoda situação de ter que investigar a fundo tudo o que é publicado diante da possibilidade do material ter objetivos e interessados ocultos. Caso estes venham a ser descobertos, os chefes ficam numa situação delicada porque a credibilidade do veículo é atingida, como provam os episódios do Rathergate e da repórter Judith Miller, do The New York Times. O aprofundamento da pesquisa sobre a ‘liquidez’ do jornalismo contemporâneo pode ajudar em muito a que os profissionais e executivos entendam melhor a natureza do processo de transformação por que passa a imprensa mundial. Esta compreensão ajudará a espantar fantasmas e preconceitos em relação à mudança. Aos nossos leitores: Serão desconsiderados os comentários ofensivos, anônimos e os que contiverem endereços eletrônicos falsos.