Elizabeth Edwards é mulher do político americano John Edwards, que foi companheiro de chapa do candidato democrata à Casa Branca, John Kerry, em 2004. O ex-senador pela Carolina do Norte tentou ser o presidenciável do partido este ano. Desistiu quando ficou claro que os democratas preferem ou Hillary Clinton ou Barack Obama.
Em todo caso, ao acompanhar as incursões eleitorais do marido durante mais de um ano, Elizabeth teve uma visão privilegiada da copa-e-cozinha da cobertura jornalística da disputa. E o que ela viu foi uma imprensa em geral concentrada nas estratégias políticas dos pré-candidatos, nas trocas de golpes entre eles e no folclore da competição – e desinteressada, com poucas exceções, de informar, questionar e comparar as suas idéias sobre os problemas que afetam o eleitorado do país: economia, emprego, políticas de saúde, Iraque…
Isso lhe deu matéria-prima para escrever no New York Times deste domingo o artigo cujo título – “Boliche 1, Saúde Pública 0 – resume a sua decepção com as preferências da mídia. [O boliche se refere às matérias sobre o desempenho de Obama no jogo.]
É o que ela chama de “jornalismo de flash”, que mostra os contornos dos fatos, mas deixa muita coisa na sombra.
Neste ano de eleições municipais no Brasil, com as metrópoles nacionais atoladas em problemas conhecidos de todos, as críticas da senhora Edwards ao jornalismo político americano podem servir de guia para o que a imprensa brasileira não deveria fazer na cobertura da campanha que vem aí.
“Estamos escolhendo um presidente. Não estamos comprando sabão”, reclama.
Elizabeth cita um levantamento segundo o qual 63% das matérias da campanha presidencial publicadas este ano tratam das estratégias dos candidatos, enquanto apenas 15% discutem as suas propostas.
Para ela, que fala com conhecimento de causa, a imprensa gravita em torno de um padrão de narrativa eleitoral que parece um autor procurando personagens para uma novela, esquadrinhando os candidatos, para ver o que neles “vende”. É o jornalismo tamanho único.
“Questões que poderiam fazer diferença na vida dos americanos não se encaixam nesse padrão e, portanto, cedem o banco dianteiro [da cobertura] para as superficialidades”, acusa. E o pior, segundo ela, é que a imprensa nem acha que existe diferença entre uma coisa e outra.
Se os eleitores querem uma imprensa vibrante e vigorosa, argumenta, terão de exigi-lo junto aos que detêm a enorme responsabilidade de informar o máximo possível sobre o que os candidatos fariam na presidência. “Façam o seu serviço”, demanda, “para que nós, como eleitores, possamos fazer o nosso.”
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