Da Folha de hoje:
‘Às 14h24, após a comissão [CPI dos Bingos] receber o despacho do STF [mandando suspender a inquirição do caseiro Francenildo dos Santos Costa], ele deixou a sala sob aplausos de senadores da oposição, de técnicos da comissão e de alguns jornalistas.’
Jornalistas não devem aplaudir. Devem manter as mãos ocupadas com os seus blocos de anotações, gravadores e microfones. Não devem tampouco vaiar. Devem manter a boca ocupada fazendo perguntas incômodas aos poderosos.
A Folha não diz quantos eram esses ‘alguns jornalistas’, muito menos, naturalmente, quem eram. Mas fossem quantos fossem e fossem quem fossem, transgrediram a ética do ofício – além de dar munição para os que proclamam que a mídia brasileira está mancomunada com a oposição para fazer mal ao presidente.
Lembro-me de um precedente ainda mais grave.
A 16 de janeiro de 1985, um dia depois de vencer a eleição indireta para presidente da República, Tancredo Neves deu a sua primeira entrevista coletiva no plenário da Câmara dos Deputados – mesmo cenário da consagradora votação da véspera.
Perguntado em dado momento como iria administrar a dívida externa do país, Tancredo saiu-se com essa: ‘Não pagarei a dívida com a fome do povo brasileiro.’
A esmagadora maioria dos jornalistas presentes o premiou com entusiástica e prolongada salva de palmas.
Teria ficado por isso mesmo se no dia seguinte o decano do colunismo político brasileiro, Carlos Castello Branco, já falecido, não usasse o seu espaço no Jornal do Brasil para desancar o comportamento dos coleguinhas.
Professores e estudantes de jornalismo, para não falar nos próprios jornalistas que trabalham pensando no que fazem, deviam resgatar esse texto exemplar dos arquivos do JB. Para prevenir novos vexames como o de ontem.
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