Ir a fundo nas causas do desmoronamento da obra do metrô em Pinheiros é um desafio e tanto para a imprensa, porque é íngreme para os leigos o terreno técnico em que o problema se assenta.
Os jornais até que se esforçam, garimpando declarações de especialistas que se mantêm no anonimato sobre o que foi feito (ou deixou de ser feito)para prevenir (ou provocar) a tragédia.
Esse trabalho complementa a publicação de revelações importantes sobre a conduta do consórcio das maiores empreiteiras do país responsável pela construção da Linha Amarela do metrô paulistano.
Por exemplo, a informação de que na véspera do desabamento já haviam sido constatados indícios de problemas sérios no local (Estado) e a de que os responsáveis diretos pela obra destruída tiveram pelo menos 10 minutos para avisar a vizinha do que estava para acontecer e nada fizeram (Folha). Poderiam no mínimo ter parado o trânsito na Rua Capri, o que salvaria as vidas do motorista, cobrador e dos quatro passageiros da van que acabou tragada pelo buracão.
Mas os jornalistas envolvidos na cobertura parecem que não lêem os próprios jornais – ou melhor, as cartas dos leitores. Todos os dias sai correspondência de técnicos do setor apontando questões que merecem ser abordadas pela mídia, naturalmente, com os devidos cuidados, para não vender gato por lebre ao público.
Uma dessas mensagens mais promissoras está no Estado de hoje. É assinada por Hoover Américo Sampaio, de São Paulo. Começa dizendo:
‘Sou arquiteto, e não engenheiro de estruturas, mas, nos 15 anos em que fui membro do Crea, tive a oportunidade de assistir a muitas conversas sobre desabamentos em que a entidade era chamada a opinar. E um dos fatos observados pelos especialistas era que, em geral, os ferros da estrutura que desabara estavam lisos, limpos, sem nenhuma aderência de concreto neles, o que era demonstração de má dosagem de cimento no concreto.’
Hoover é o que se chama de leitor atento. Vejam só como continua a sua carta:
‘Se observarmos a grande foto na primeira página do caderno Metrópole de ontem, notaremos que, bem acima dos bombeiros que retiram uma vítima, temos uma malha de ferro da laje quebrada e, no canto direito, embaixo, vários ferros que parecem ser de um pilar que estão, tanto a malha como estes, limpinhos.’
E ele termina:
‘Vai aqui uma modesta contribuição de leitor para os órgãos encarregados das perícias. Tanho certeza de que eles já sabem disso, mas não custa mostrar aos outros.’
E não custa apurar – ou, se custa, vale a pena – se o homem diz coisa com coisa. Em caso positivo, é questão de saber o porquê da ‘má dosagem de cimento no concreto’. Incompetência? Economia?
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