A intensidade da discussão sobre as denúncias do jornalista Luis Nassif contra a Veja parece indicar que o criticismo dos leitores é apenas a ponta de um iceberg no relacionamento da imprensa com seu público.
A revista não é o único veículo jornalístico a enfrentar este fenômeno de desgaste da imagem perante um segmento do público. Trata-se de um processo ainda não estudado, mas que merece ser visto com cuidado porque pode desvendar alguns comportamentos que as pesquisas de opinião não conseguem identificar.
A discussão provocada pelas denúncias de Nassif está levando os leitores à experiência inédita de debater a mídia, sem passar pelo filtro desta mesma mídia. Um debate que começa a fluir nos blogs, uma espécie de território livre dos leitores, e que deve levar à formação de uma massa crítica de conhecimentos, passada a fase da catarse.
Como em todos os processos que exploram áreas novas, onde não há modelos preexistentes, a percepção inicial é de uma babel onde todos falam e ninguém ouve. Ou melhor, onde todos escrevem e pouquíssimos tentam entender.
Mas a experiência também nos mostra que com o passar do tempo, a paixão cede lugar à razão. Daí o desafio de tentar identificar e resgatar, no meio dos adjetivos e recriminações, o que é dado ou informação para que se possa, coletivamente, gerar conhecimentos que servirão a todos nós, leitores, jornalistas e gerentes da mídia, indistintamente.
Já que a imprensa dedica pouca atenção às questões da comunicação contemporânea, como mostrou uma pesquisa feita pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI), o público começa a usar os blogs como forma de, primeiro, mostrar que existe para logo em seguida contribuir e propor.
Não se espera que este seja um processo linear e nem pautado pelas regras de um colégio de freiras. Mas ele oferecerá aos que estão preocupados com o papel da mídia na sociedade atual uma oportunidade ímpar para obter novos dados e informações, bem como testar a formação de comunidades informativas com interesses específicos.
O tiroteio verbal entre os comentaristas pode induzir alguns profissionais da imprensa a se refugiar numa falsa dicotomia entre nós, os que supostamente entendem de comunicação, e eles, os que não sabem o que fazer com ela.
É um posicionamento equivocado porque o jornalista necessita interagir com o público para poder exercer a sua profissão, ainda mais na era digital. E os leitores, por seu lado, agora são também repórteres, editores e publishers, com responsabilidades similares a dos profissionais na hora que assinam um blog ou um comentário.
Apesar de muitos leitores ingressarem no debate sobre a mídia com uma postura de confronto, se esta mesma mídia for inteligente, ela verá que também tem muito a ganhar com a nova situação. O modelo de negócios das empresas de comunicação está em crise e o diálogo com os leitores pode ajudá-las a encontrar novas estratégias corporativas, como mostram algumas experiências em curso nos Estados Unidos, Europa e Ásia.
Conversa com os leitores
Na discussão registrada a propósito dos dois últimos posts aqui no Código vários comentaristas se excederam no uso de expressões agressivas e depreciativas em relação a outros participantes no debate. Não interferimos, porque apostamos na capacidade de grande maioria dos leitores de ignorar os mais exaltados para preservar o ambiente de troca de idéias e informações. Cada autor de comentário deve respeitar os demais para que seja também respeitado. É a regra básica de uma comunidade.
A propósito, o Observatório respeita qualquer identidade colocada nos comentários. Para nós importa o que é escrito.