Certas matérias deviam vir acompanhadas de uma advertência: risco de perda de tempo e mal-estar.
Se a publicação é obrigatória, a leitura é facultativa. Mas o leitor precisa ser alertado para isso.
Jornal que convida um ex-presidente para sabatiná-lo é obrigado a imprimir as suas palavras com destaque compatível com o convite e o convidado. O contrário seria inconcebível.
Mas por que o leitor deve pagar a conta do espetáculo que não pediu para montarem se a personagem é uma dessas figuras públicas que de há muito trocou de mal com a coerência – não se lhe atribui o celebrizado “esqueçam o que escrevi”? – e fala o que lhe dá na telha, flutuando como la piuma al vento.
O homem dizia – e não foi na outra encarnação, mas há poucas semanas – que o presidente não refugaria um terceiro mandato, se é que ele mesmo não tem parte com a jogada.
Agora vem e diz que que é isso, imagina, ele é conservador demais para tanto. E por aí vai, incluíndo, de passagem, um “eu gosto dele”. Praticamente a cada resposta, uma no cravo, outra na ferradura, a mordida e o assoprão.
Páginas adiante, é o presidente que solta o verbo, num evento público no Pará. Sai em defesa da governadora-companheira no caso escabroso da adolescente L. e emenda, já a propósito da CPMF:
“A direita não é mole. Você pensa que a direita é como a esquerda. Não. A esquerda faz um discurso aqui e vai embora. E a esquerda é cheia de moralismo: ‘Não, não pode falar da família, não pode atacar o filho, não pode fazer.’ A direita não tem piedade.’
Falou, está falado, tem de publicar. Mas, torno a dizer, devia haver um meio de prevenir o leitor para que desvie a vista do publicado. Para não se estomagar com mais essa demonstração de insensibilidade oficial diante do horror de Abaetetuba.
Já não bastou ele saber que o outro disse que o caso “parece ficção”?