Os jornais de hoje não tiveram tempo – mas teriam, se não funcionassem a meia-bomba aos sábados – para dar ao leitor uma primeira panorâmica dos possíveis efeitos da corrupção nos Correios, revelada na edição da revista Veja que bateu ontem nas bancas, sobre a proclamada tentativa do presidente Lula de recompor a interlocução do governo com a base aliada e, por extensão, com o Legislativo.
A conselho do deputado Severino, segundo se noticiou, o presidente vai se reunir na quarta-feira com os Estados Gerais do Congresso: os presidentes da Câmara e do Senado e os membros do colégio de líderes (oposição y compris) nas duas Casas.
Em alguma medida, para dizer o menos, a reunião já ficou contaminada pelas cenas explícitas de prevaricação naquela estatal onde o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson, emplacou mais de um dos seus, entre eles o chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho.
No material da Veja, ele é visto e ouvindo dizendo duas coisas politicamente letais sobre o funcionamento da maracutaia na ECT:
1) ‘Nós somos três e trabalhamos fechado. Os três são designados pelo PTB, pelo Roberto Jefferson. Tudo o que fechamos o partido fica sabendo.’
2) ‘O PTB é que me dá cobertura. Não faço nada sem consultar. Tem vez que ele [Jefferson] vem do Rio de Janeiro só para acertar um negócio. Ele é doidão!’
As urnas de 2002 deram à sigla do ‘doidão’ 26 cadeiras (em 513) na Câmara dos Deputados. Já no primeiro ano do novo governo, valendo-se do livre, leve e solto troca-troca de legendas, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, deu-lhe outras 23, fazendo do topa-tudo PTB um dos pilares da coligação que ele (e Lula) não se fartam de louvar.
Fica fácil agora um petista, se não dizendo, pensando: ‘E a idéia é dar ainda mais poder a essa gente!’
Fica fácil também prever o aranzel que a dupla PSDB-PFL vai aprontar por conta do escândalo, com pedido de CPI e tudo mais. ‘É como sexo explícito na igreja’, já disparou o sempre rombudo líder tucano no Senado, Arthur Virgílio’. Mesmo descontando-se o exagero, é o caso de saber com que cara o presidente tentará agora se entender também com as oposições, em nome da governabilidade e da boa vizinhança entre o Planalto e o Congresso.
Ou alguém acha que o governo conseguirá fazer com que a vida siga, deixando a corrupa postal por conta da sindicância que o presidente da ECT, João Henrique (este, por sinal, do PMDB) mandou instaurar?
É esperar – mas não esperar muito, receio – os jornais de amanhã.