Na nota ‘Lula e o PT no teste dos números’, publicada aqui anteontem, escrevi:
‘Se restam poucas dúvidas sobre a reeleição de Lula, são muitas as que persistem sobre o desempenho do PT – o partido que este ano ele não fez lá muita questão de promover no horário de propaganda – nas urnas de outubro.’
E anotei que ‘para testar o que é lulismo e o que é petismo’, será útil ver como ficarão, nas diferentes regiões do país, as proporções entre a votação do presidente e a dos candidatos do PT a deputado federal.
O assunto parece que pegou.
Exemplo disso é o comentário ‘A lenda do Petezinho’ de Renata Lo Prete, editora do Painel da Folha, no jornal de hoje:
‘Primeiro, caiu por terra a profecia de que Lula chegaria à eleição enfraquecido demais para conseguir o segundo mandato. Agora, vai se desfazendo a idéia de que, mesmo com a vitória do presidente, seu partido encolheria substancialmente na Câmara.
No auge da crise, não era raro encontrar, na oposição mas também no governo, quem projetasse para o PT uma bancada na casa dos 50 deputados -são 81 dos 513 hoje.
Com algum viés de alta, as previsões desalentadoras sobreviveram por meses à recuperação de Lula. Hoje, porém, pesquisas para consumo interno de diferentes partidos, associadas ao olhar experiente de quem toca a eleição nos Estados, desenham um cenário em que o PT chega perto de repetir sua atual representação na Casa.
À diferença de 2002, não será a maior bancada -troféu reservado ao PMDB. Mas o segundo lugar, somado à perspectiva de continuidade na Presidência da República, estará de bom tamanho para manter o PT no jogo.
Tome-se o caso de São Paulo, onde a chapa petista inclui alguns dos mais famosos mensaleiros. O desenrolar da campanha indica que o destino dos candidatos está menos relacionado ao envolvimento -ou, no outro extremo, a um ‘nada consta’- nos escândalos de 2005 do que à máquina a sustentá-los.
Carente nesse quesito, José Mentor caminha para provável derrota. Amparado na Prefeitura de Osasco, João Paulo Cunha tem boas chances de se reeleger. Nomes como José Genoino e Luiz Eduardo Greenhalgh, no passado alimentados pelo chamado ‘voto de opinião’, estão no páreo, mas com muito mais dificuldades do que os novatos Janete Pietá, mulher do prefeito de Guarulhos, e Jilmar Tatto, cuja família comanda o voto na periferia sul paulistana com eficiência de fazer inveja aos coronéis do Nordeste.
Sai um, entra outro, o PT-SP avalia que a nova bancada tende a igualar a atual em tamanho (17). Em vários Estados, candidatos oposicionistas à Câmara sentem na pele a concorrência de petistas que, com ou sem estrela vermelha na propaganda de Lula, gozam das facilidades de quem está instalado no poder federal.
Há exceções. O PT deve experimentar perda significativa nas bancadas do Rio Grande do Sul e de Minas, mas ela será compensada, em boa medida, pelo aumento no número de deputados eleitos pela sigla nas regiões Norte e principalmente Nordeste.
A mudança a esperar é de perfil. Alguma redução no cômputo geral de Sul e Sudeste. Crescimento nos grotões. Menos ‘voto de opinião’ -de resto mingüante também nos outros partidos. Mais voto ‘de resultados’.
Enquanto Genoino rala por uma vaga na bancada paulista, seu irmão José Nobre Guimarães, o chefe do ‘homem-cueca’, deve ser o petista campeão de votos no Ceará.’
P.S. Da interminável série ‘O diabo está nos detalhes’
Acompanhando o noticiário de hoje da campanha de Geraldo Alckmin, Estado e Folha deram a mesma e óbvia foto do candidato dando uma tacada em mesa de sinuca, numa favela carioca – típica photo op, como dizem os americanos ao se referir a situações construídas exatamente para render imagens na mídia.
Mas comparem as legendas dos dois jornais:
Estado: ‘Alckmin na favela Rio das Pedras: acerto de 3 das 4 bolas’.
Folha: ‘Geraldo Alckmin joga sinuca na favela Rio das Pedras; ele acertou três bolas, cuidadosamente preparadas por seus assessores’.
A diferença entre os dois textos renderia um curso inteiro de jornalismo.
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