Serra ganhando pela primeira vez de Lula nas pesquisas já no primeiro turno é notícia? Claro que é. Mas, a nove meses e meio da sucessão e na briga de foice pela candidatura tucana entre o prefeito de São Paulo – que assinou um papel dizendo que cumpriria o mandato até o fim – e o governador de São Paulo – que assumiu a pretensão ao vivo e em cores no último Roda Viva – não estou seguro do acerto dos jornais do dia em concentrar todos os seus holofotes apenas nesse resultado das sondagens do Ibope e do Datafolha.
Os mancheteiros dos diários bem que poderiam ter quebrado a cabeça para produzir títulos de primeira página que acrescentassem àquela a informação essencial sobre a situação atual da imagem do presidente – que continuou a piorar, mesmo tendo ficado estável a avaliação do seu governo.
E esta já não é nenhuma Brastemp, com apenas 29% de ótimo e bom, segundo o Ibope. Sem falar que na faixa de renda de até um salário mínimo, esse índice caiu de 38% em setembro para 31% agora, enquanto os “votos” ruim e péssimo saltaram de 25% para 35% no mesmo período.
A avaliação pessoal de Lula é medida pela seguinte pergunta: “O(a) sr(a) aprova ou desaprova a maneira como o presidente Lula está governando o Brasil?”
Em setembro a diferença entre os que aprovam e desaprovam dava 4 pontos percentuais negativos. Agora, está em 10. E pensar que, seis meses depois da posse, era de 52 – positivos.
Dito de outro modo: os 70% dos brasileiros que aprovavam o jeito lulista de governar em junho de 2003 estão reduzidos a 42%. Os 18% que o reprovavam hoje são 52%.
Esses resultados batem com as respostas sobre a confiança (ou não) no presidente. Em meados de 2003, confiavam nele 76% dos entrevistados. Em dezembro de 2005, 43%. Já a parcela dos que não confiam está perto de triplicar, tendo passado de 19% para 53%.
E mais: Quase a metade dos brasileiros (46%) acham que Lula está se saindo pior do que esperavam – o pior resultado desde a posse. E apenas 1 em cada 5 acham que ele está se saindo melhor.
Lula ainda é mais bem visto do que Fernando Henrique: 39% a 30%. Mas ela primeira vez desde que a questão foi incluída, a parcela dos que acham o governo Lula pior que o do antecessor supera a dos que consideram os dois governos iguais.
Para completar, como destacou o Estado na matéria “Reprovação atinge pilares do governo”, também pela primeira vez o desempenho do governo é mais reprovado do que aprovado em todas as sete áreas de atuação selecionadas pela pesquisa.
No quesito “combate ao desemprego”, por exemplo, o governo perde por 62% a 34%. Mesmo no ítem “combate à fome e à pobreza”, 46% aprovam e 50% desaprovam.
E no caso das intenções de voto para 2006, mais significativo do que a ultrapassagem de Lula por Serra já no primeiro turno é o fato de que, se a eleição fosse hoje, o presidente perderia em todas as faixas de renda. Isso se relaciona com a migração do voto: praticamente 1 em cada 3 dos lulistas de 2002 se declara hoje serrista.
Lula perdeu votos mesmo entre os eleitores cuja renda familiar não passa de 2 salários mínimos – como os das 8,7 milhões de famílias que recebem o Bolsa-Família. E mesmo na periferia das capitais e no interior.
Atualmente, o seu último reduto eleitoral é o Nordeste, onde supera o tucano – por uma margem restrita a 3 pontos de porcentagem.
Pelo visto, o colunista do Globo Merval Pereira não exagerou ao intitular o seu comentário de hoje “Ladeira abaixo”.
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