Hoje é dia de prestar atenção no que dirá o presidente Lula – e mais, talvez, no que lhe for perguntado.
Um dos mais falantes chefes de governo na história da democracia brasileira e um dos menos falantes, quando se trata de se expor à mídia, Lula será o entrevistado da edição especial de aniversário do Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo.
O programa completa 1.000 entrevistas. Esta será gravada agora de manhã no Palácio do Planalto para exibição no horário tradicional das 22h30.
O motivo por que jornalistas e não jornalistas devem atentar para o desempenho dos entrevistadores tem a ver com a história dessa entrevista e com um comentário da colunista Dora Kramer, do Estadão.
A história é que Lula relutou meio ano para aceitar o indeclinável convite, como se pudesse ser outro se não o presidente da República Federativa do Brasil o protagonista da milésima edição do mais bem sucedido programa do gênero na TV brasileira.
O comentário é que “a idéia de formar a bancada com ex-apresentadores do programa foi uma forma de predispor o presidente a aceitar o convite”, pois, à exceção de dois deles, “não estão atuando em veículos de informação diária”.
Ou seja, Dora parece sugerir que o critério para a escalação do time de entrevistadores não foi jornalístico, nem simbólico, mas o da conveniência do entrevistado.
E que pelo fato de não atuarem “em veículos de informação diária” – ou na mídia convencional – esses jornalistas em particular seriam menos mordedores do que os outros, por alheamento ou falta de apetite.
A menos que se deduza que, na visão de Lula, eles seriam mais independentes do que os profissionais da grande imprensa, diária e semanal, de que ele vive se queixando, com doses variadas, ou nenhuma, de razão.
Alguém talvez se sinta tentado a dizer que não é uma coisa nem outra: Dora teria escrito o que escreveu por despeito. O critério adotado a exclui de antemão dos entrevistadores em potencial do presidente, de cuja elite ela faz parte.
Se isso é verdade, o sentimento da comentarista do Estado deve ser compartilhado por jornalistas do calibre de Eliane Cantanhêde, Fernando Rodrigues, Josias de Souza, Kennedy Alencar (Folha); Cristiano Romero e Raymundo Costa (Valor); Franklin Martins (TV Globo); Teresa Cruvinel (O Globo), além do blogueiro Ricardo Noblat – para citar apenas os principais daqueles baseados em Brasília.
A ausência de qualquer deles pode ser um alívio para Lula. Para o público, em que pesem os atributos e o currículo de todos os escalados, provavelmente será uma perda.
Enfim, como dizem os hispanos, a ver lo que pasa.
***
Serão desconsideradas as mensagens ofensivas, anônimas e aquelas cujos autores não possam ser contatados por terem fornecido e-mails falsos.