Ninguém que valha o seu sal no mercado publicitário e no mercado editorial há de ter ficado surpreso com a revelação de ontem do jornal Valor, reproduzida hoje pela Folha e o Estado.
A revelação é que a Operação Cevada, da Polícia Federal, gravou uma conversa telefônica entre o publicitário Luiz Lara, da agência Lew, Lara, e o diretor da cervejaria Shincariol, Adriano Schincariol, preso em São Paulo, registrando o que parece ser uma sugestão de compra de matéria de capa da IstoÉ Dinheiro, favorável aos interesses da empresa.
Na conversa, de 17 de dezembro do ano passado, Luiz diz a Adriano, referindo-se ao dono da Editora Três, que publica a IstoÉ e a Dinheiro, Domingo Alzugaray: “O Domingo, se você der um dinheiro agora no final do ano, ele vai fazer o que você pede…ele te dá uma capa da Dinheiro sobre a pauta fiscal”.
O empresário se entusiasma: “Putz, aí mata a pau, não?”
Luiz Lara escala: “Se você quiser, eu faço com o Domingo aí, se você colocar na mão dele 500 mil, 1 milhão…”
Três meses depois, a IstoÉ Dinheiro pôs na capa uma lata de cerveja com a chamada “A virada da Schin”.
Lara não desmente o que disse. Mas fala que se excedeu inadvertidamente, “pois uma agência de publicidade não tem a função nem o poder de interferir no conteúdo editorial dos veículos de comunicação”.
Alzuguray disse que “as capas e o texto editorial de nossas publicações não estão à venda”.
Os políticos que a mídia vem matando a pau porque estariam se comprando uns aos outros também dizem que não estão à venda – e, exceto pelas velhinhas de Taubaté, ninguém acredita. Por que os seus desmentidos seriam menos críveis do que os dos senhores Lara e Alzugaray?
Decerto não toda a mídia, nem a maioria da mídia, nem mesmo uma minoria ponderável da mídia de projeção nacional, transforma o seu espaço (ou tempo) editorial em mercadoria para quem pagar mais.
Mas, indiferentes ao velho ditado do macaco e do seu rabo, há “veículos”, como dizem os publicitários, que veiculam gato por lebre, sem por isso se sentirem impedidos de desancar mensalões e esquemas de cobrança de propinas na área pública.
Mesmo que fosse um só grande jornal, uma só grande revista, uma só emissora de TV, uma só estação de rádio, já seria uma demais.
E para os traficantes de mal-disfarçadas matérias pagas, não há controladorias-gerais, ministérios públicos, comissões parlamentares de inquérito. Nem, muito menos, conselhos de ética.