Complementando o tema da seção Feitos e Desfeitas, do Observatório da Imprensa da semana, sobre o uso gratuito, tolo até, de expressões importadas, um detalhe dos jornais de ontem reforça a necessidade de se preservar o idioma português. Nossa matéria-prima está sendo maltratada até mesmo por experientes jornalistas, como Maria Christina Carvalho, do Valor Econômico, que na edição de ontem demonstrou a necessidade que em traduzir “período de silêncio” como “quiet period”, do inglês, na reportagem Bradesco adota período de silêncio pré-balanço.
A adoção pela imprensa de expressões fabricadas no pobre vocabulário dos MBA, origem do gerundismo e do ‘a nível de’, é praga que assola principalmente o jornalismo econômico. O uso contínuo de expressões que são apresentadas aos leitores como corriqueiras, separadas apenas por parênteses, como se fizessem parte do cotidiano, aponta tanto para o macaquismo quanto para o abandono do caráter didático que a imprensa, pelo menos teoricamente, deveria ter.
O açodamento dos fechamentos das reportagens, a produção de jornalismo compreensível apenas para iniciados, o rodízio das sempre e mesmas fontes defendendo sempre os mesmos interesses setoriais ou financeiros, a falta de critério na escolha de especialistas que, mesmo cometendo erros fragorosos em suas projeções, continuam sendo merecedores de crédito – tudo isso, e mais um pouco, ressaltando o declivoso hábito de escrever em outro idioma, talvez explique porque o capitalismo brasileiro ainda permanece incompreensível para milhões de prováveis investidores.