Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mais para cego do que para incompreendido

Se é verdade o que contaram aos repórteres Fábio Guibu e Eduardo Scolese, da Folha de S.Paulo, a crise que cerca o presidente é ainda mais séria do que parece. Por causa dele próprio.

Políticos com quem Lula se fechou numa sala do Palácio das Princesas, no Recife, em meio ao velório de Miguel Arraes, disseram – e o jornal dá hoje – que ele se queixou das críticas generalizadas ao seu pronunciamento na sexta-feira.

Até o presidente do PT, Tarso Genro, considerou o discurso ‘insuficiente’.

Abre parênteses. Pode ser que o ex-ministro da Educação esteja subindo o tom de seus comentários para conquistar votos na banda esquerda petista nas eleições de setembro para o comando do partido. Pode ser até, como há quem diga, que ele tenha planos mais ousados: ser o candidato do PT a presidente da República, se Lula não puder ou não quiser concorrer à reeleição. Fecha parênteses.

O que Lula teria dito sobre as críticas é que às vezes ele não é ‘compreendido’.

Se acha mesmo isso, é que não está compreendendo o essencial: que cada vez mais brasileiros lhe darão as costas enquanto ele resistir a ‘matar no peito’, como diria Roberto Jefferson, a crise da corrupção. Como?

Dizendo, por exemplo, olho no olho do povo: ‘Eu não sabia, mas isso não é motivo para não pedir desculpas a cada uma e a cada um de vocês, porque eu sou o primeiro mandatário do país.’

Aliás, ele deveria se desculpar em dobro. Primeiro, porque é o que é e está onde está. Segundo, por levar tanto tempo a fazê-lo.

Mas, se acha que não o compreendem, desculpar-se por quê e para quê?

Leio que Lula voltou do Recife com o ego nas alturas por causa dos aplausos que recebeu do povão nos portões do palácio do governo pernambucano (e por causa das vaias aos tucanos e aos dissidentes da esquerda petista).

Tanto pior. Já diziam os gregos: quando os deuses querem destruir alguém, a primeira coisa que fazem é cegá-lo.