Semana passada foi a IstoÉ que revelou a contratação de um ex-agente do SNI, Francisco Ambrósio do Nascimento, para trabalhar na Operação Satiagraha do delegado PF Protógenes Queiroz.
Agora a Época informa que o delegado recorreu também ao serviço de Inteligência do Exército – no caso, para checar se um oficial da Arma foi aliciado para trabalhar para Daniel Dantas.
Assim como confirmou a participação do araponga aposentado do SNI, Protógenes confirma o contato com os militares – especificamente, com o comandante do Exército, general Enzo Peri.
O general “colocou o gabinete para cuidar do assunto”, é o que a Época diz que o delegado lhe disse.
Só que o Exército desmente “participação institucional com a Polícia Federal na operação citada”.
O que deixa aberta a possibilidade de “participação não-institucional”.
Algo no gênero do encontro que teria ocorrido no começo do ano num café próximo da sede da PF em Brasília. Sentaram-se a mesma mesa um major da Aeronáutica, que já trabalhou para o serviço secreto da Arma; um sargento também ligado à chamada “comunidade de informações” da área militar; o araponga do SNI; e o delegado Protógenes.
Segundo a revista, foi a partir desse encontro que o delegado decidiu integrar Ambrósio à operação.
Por que, não se sabe. Como tampouco se conhecem os antecedentes do encontro.
A cada novo ciclo noticioso sobre o quebra-cabeça posto à mesa com a história do grampo de uma conversa do presidente do Supremo Tribunal, a impressão não é de que as peças vão se encaixando, mas que aumenta o número de peças a encaixar.
Tome-se a informação do jornalista Rui Nogueira, no Estado de sexta-feira (12/9), de que o presidente Lula decidiu tornar definitivo o afastamento temporário do chefe do serviço secreto brasileiro, a Abin, delegado Paulo Lacerda.
Para o jornal, a decisão foi motivada pela revelação de que a Abin emprestou 52 agentes a Protógenes para trabalhar na Satiagraha – mais que o dobro dos 23 federais envolvidos com a operação.
Seria impossível isso acontecer à revelia de Paulo Lacerda – a quem Protógenes é ligado pelo menos desde quando ele chefiava a PF.
E Lacerda teria que dar essa informação ao seu superior, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Felix.
Segundo o ministro da Justiça, Tarso Genro, citado pela Folha, “basta que um [agente da Abin] tenha participado da investigação para que fique caracterizada uma situação irregular”. A Abin não foi criada para ter funções policiais.
E o afastamento definitivo? Em Genebra, onde chegou para participar de um seminário sobre violência, o ministro da Justiça, Tarso Genro, foi informado da matéria exclusiva do Estado pelo correspondente do jornal Jamil Chade.
Checa daqui, checa dali, Genro voltou ao repórter com a hipótese de que a decisão – se é que foi tomada – não teria partido do presidente, mas do ministro Jorge Felix.
O que leva a supôr que a fonte do Estado foi o próprio, para criar, talvez, uma situação sem volta para Lacerda [que foi parar na Abin, aliás, apadrinhado pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos].
Ainda não acabou.
O Globo também foi atrás do presumível furo do concorrente paulista. Apurou, também provavelmente junto ao ministro Felix, que o presidente Lula negou “que já tenha decidido afastar Lacerda definitivamente”. Ele estaria na marca do pênalti, dependendo do que mais aparecer sobre a parceria da Abin com a PF.
Aí a saída de Lacerda seria a senha de Lula para a reformular a agência, sob um novo comando.
Com todos esses novos desdobramentos ocupando espaço na imprensa – e não é que não devessem ocupar –, vai resvalando para o esquecimento o problema de fundo do rolo todo:
Quem – e para quê – vazou o grampo no telefone do presidente do Supremo?
Em relação a isso, continua-se na estaca zero. E sem isso, o quebra-cabeça continua aberto.