Madri, Espanha. Logo mais, ao meio-dia daqui, 7 h da manhã no Brasil, termianará o 3º Seminário de Jornalismo Solidário, que, neste ano, tratou de Imigração e Poder da Imprensa na América Latina. Os dois últimos dias foram puxados, com quase dez horas de palestras, mesas-redondas e debates.
Do primeiro dia, uma frase do jornalista espanhol, Joaquín Estefaníia, diretor da Escola de Jornalismo que a Universidad Autónoma de Madrid mantém junto com o jornal El País, valeu a manhã. Ele falava sobre a imensa responsabilidade dos jornalistas no uso adequado palavra na discussão sobre assuntos ligados à imigração – o segundo maior problema para os espanhóis, depois da falta de trrabalho – , e cravou: ‘Da má palavra, surge o preconceito; do preconceito, a política; da política, a ideologia’.
Assim, com menos de dez palavras, resumiu o caminho percorrido por tragédias políticas como o holocausto na Alemanha e o Macartismo nos EUA, para citar os dois exemplos que depois foram lembrados nos debates.
Toda a discussão se desenvolveu em torno das rubricas e das retrancas que, nos jornais e nas revistas, aparecem acima dos títulos dos jornais. Nos telejornais, são aquelas frases suscintas – em geral, com menos de cinco palavras – que antecedem a apresentação da reportagem. Aí é que mora o perigo.
Retendo-se ao tema da discussão, quando um jornal europeu, ao tratar de imigração, carimba as reportagens sobre o assunto como ‘O problema da Imigração’, por exemplo, já está coloborando para a formação de uma consciência negativa e de rechaço à presença de estrangeiros.
No Brasil, muitas das retrancas e rubricas são carregadas de preconceitos e idéias pré-concebidas. Em alguns casos, como nos noticiários de televisão, o que as define não é a identificação pura e simples do assunto, mas a criatividade do redator em fazer uma piadinha ou expressar sua gravidade sobre o que virá a seguir. Pode ser uma questão de estilo, mas não viria mal uma reflexão sobre o tema.
A segunda exposição, mais demorada, coube a Sami Naïr, professor de Ciências Políticas e Sociologia da Universidade de Paris e da Universidade Carlos III de Madri. Ele descarregou sobre a platéia os números recolhidos pela ONU sobre correntes imigratórias, a partir da evolução do crescimento da população mundial que, por si, mostra que as movimentações em massa de pessoas não são apenas resultado da globalização, mas um efeito natural. A Terra tinha 1,2 bilhão de habitantes em 1900, 3,5 bilhões nos anos 60, 6,5 bilhões nos dias atuais. Desse últímo número, 4,5 bilhões vivem sem serviços básicos como água, saneamento, saúde e educação, e mais de 200 milhões mudam de um hemisfério para outro em busca de condições dignas de existência. Após mencionar esses e uma longa série de números e indicadores que deixou a platéia meio perdida, Naïr resumiu todos os indicadores com uma frase que faz parte das ‘Propostas’ desse Observatório da Imprensa. A de que o convívio das populações locais com os estrangeiros que buscam um futuro melhor em outros países exige um exercício permanente de solidariedade. Para os jornalistas, neste quadro, caberia não só preservar a capacidade de se indignar com as injustiças sociais e com suas causas, como a corrupção de dentro e de fora do aparelho estatal e a busca insaciável por lucros cada vez maiores das grandes corporações, mas também colaborar na criação de convicções a partir de valores humanos básicos que foram vilipendiados nas últimas décadas.
Será que pelo menos parte dessas sensibilizam os jornalistas brasileiros?
No próximo post, o que foi dito sobre o poder da imprensa na América Latina.