PCC ofusca Bolívia, que ofuscou “mensalão”, que ofuscou Waldomiro Diniz, que ofuscou…
Esse efeito é inevitável, mas o que se sente na mídia é uma incapacidade de seguir o fio da meada de histórias que ela mesma noticia. Para não falar da dificuldade de enxergar os fatos dentro de uma perspectiva histórica.
Na crise atual, não é preciso ir longe.
A imprensa mal noticiou e deixou esquecido um episódio de 13 meses atrás. Em 18 de abril de 2005, uma manifestação de mulheres de presos diante do prédio da Secretaria de Administração Penitenciária fechou ruas do centro de São Paulo. Quatro mil pessoas (segundo a PM; 8 mil, pretendiam os organizadores) foram transportadas em 210 ônibus, de diversos lugares do estado, com camisetas idênticas. Havia um conflito em torno de visitas aos presos.
O secretário Nagashi Furukawa, segundo o Estadão (19/4/2005), assistiu da janela de seu gabinete ao protesto e declarou: “É preciso investigar como isso foi financiado. Pela forma como vieram, com ônibus e camisetas iguais, dificilmente foi do próprio bolso. É preciso saber se o dinheiro foi arrecadado de forma lícita ou ilícita”.
Ainda assim, Furukawa recebeu durante uma hora representantes dos manifestantes e dissipou o que seria um “mal-entendido” a respeito das visitas.
Um porta-voz, presidente da União Paulista dos Advogados Penitenciários (Upape, depois desaparecida do noticiário), José Cláudio Bravos, disse que o movimento não tinha nenhuma ligação com criminosos ou facções.
Bravos declarou ao Estado, deixando escapar por dedução quem tinha organizado a manifestação: “A partir de agora os presos não vão se rebelar mais. Vão fazer protestos como esse”. Quem dera.
Segredos de fechaduras
Mais recentemente, a Folha deu manchete na capa do caderno Cotidiano: “Líder do PCC é flagrado com celular na prisão”. Mas ficou por isso mesmo. Em 3 de maio, no mesmo caderno da Folha, outra manchete: “Furtados segredos de fechaduras de prisões. Cópias de plantas e códigos de acesso foram levados de serralheria em SP; secretário e governador não falam”.
E, mais uma vez, ficou por isso mesmo. Nem deu tempo para pensar. Em 12 de maio ocorreu a maior das explosões de violência. Até aqui.
Corpos sem nome
Agora, existe a polêmica dos corpos sem identidade. Será que os mortos são pessoas sem ligação com o PCC? Se são pessoas ligadas ao PCC, por que razão a organização mantém a “trégua”? Está ‘sob controle’?