A ‘megaoperação’ das Polícias Civis é cortina de fumaça, diz um policial paulista. Os governadores apoiaram, entre outras razões, porque o evento serve como instrumento para cobrar verbas federais. A polícia dá uma satisfação para a sociedade. O objetivo é político.
Os 1.675 presos em São Paulo foram para a manchete do Globo deste sábado. O jornal não perguntou às autoridades quantos desses são suspeitos de assaltos a bancos, modalidade criminosa que mais preocupa na capital paulista nas últimas semanas. Nenhum jornal perguntou. Uma moça ficou paraplégica, como se sabe, um homem teve a perna amputada.
Os assaltos estão sendo feitos, em muitos casos, para que criminosos em liberdade paguem sua cota mensal ao PCC, agora majorada para mil reais. Novamente: quantos assaltantes de bancos foram presos? Nenhum, ao que se saiba. Será que os jornais vão examinar em detalhe os números da operação?
A única ação relevante ocorreu em Santos, onde uma quadrilha que esvaziava contêineres no porto foi desbaratada.
Dos que permaneceram detidos após a operação – menos de mil -, a maioria se enquadra na categoria ‘prisão administrativa’. Devedores de pensão alimentícia, etc. Em outras palavras, houve o cumprimento, num prazo curto, de mandados de prisão pendentes. Alguns, entre milhares.
Outra pergunta: neste sábado, como atuou a polícia? Como atuará no domingo, na segunda-feira? Para fazer a ‘operação’ foi necessário cancelar folgas. Mas num sistema que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, não há como não dar folgas. Passada a demonstração de força, tudo volta à rotina.
Demonstrações de força das polícias civis são perigosas. Em seu livro sobre o Esquadrão da Morte, de 1976, Hélio Bicudo contou (Meu depoimento sobre o Esquadrão da Morte, pág. 4):
‘Dois anos antes [em 1967], a Polícia de São Paulo, por motivos que depois vieram a lume, desencadeara uma pretensa ´ofensiva contra o crime´. Sucedia que a criminalidade em São Paulo vinha num crescendo impressionante, e a Polícia Civil, sem meios adequados, estava sendo vítima da própria fraqueza de seus dirigentes. As dissensões nos quadros policiais tinham resultado numa total desarmonia entre as duas principais corporações, a Civil e a Militar ou militarizada. Em termos realistas isto se traduzia no quase aniquilamento da primeira pela segunda.
Alguns policiais, no desejo de manter o prestígio da Polícia Civil, resolveram, sem medir conseqüências, dar corpo às estatísticas de eficiência através da eliminação pura e simples de marginais, contando para isso com o apoio da cúpula da instituição e até mesmo do governador do estado‘.
Clique aqui para ler entrevista de Hélio Bicudo.