Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mídia não explora o fato raro desta eleição

Breve (4 parágrafos), informativa e crítica, mas infelizmente não assinada, a matéria da Folha de hoje ‘Avanço do PSDB no eleitorado mais rico e instruído não influi em outras faixas’ é leitura obrigatória.

No entanto, nem a Folha, nem a concorrência parecem ter atentado para a excepcionalidade da eleição presidencial, que tem tudo a ver com essa matéria. É a primeira disputa pelo governo nacional, desde 1950, em que a classe social do eleitor tem relação decisiva e direta com a sua intenção de voto, captada nas pesquisas.

A posição social não determinou o voto da maioria do eleitorado em 2002, quando boa parte da classe média preferiu Lula. Nem contou significativamente na reeleição, muito menos na eleição, de Fernando Henrique. Antes, povão, elites e tutti quanti, sem grandes distinções, elegeram Collor, Jânio e JK.

Na eleição de 1950, as pesquisas, então chamadas enquetes, eram poucas e imprecisas. Mas ninguém duvida de que os pobres votaram maciçamente em Getúlio, enquanto a classe média e a alta foram em peso de Brigadeiro, como era conhecido o udenista Eduardo Gomes (‘bonito e solteiro’). Aliás, se analfabetos votassem à época, o ex-ditador teria alcançado uma das maiores votações já registradas em todos os tempos, em países democráticos.

Agora, o ditado que fala em não enxergar a floresta por causa das árvores se aplica à cobertura da sucessão.

Todo dia em que sai pesquisa, a mídia assinala as acentuadas diferenças entre os eleitores de Lula e Alckmin por nível de renda, anos de estudo e região do país – três critérios que indicam em geral o mesmo: a condição social do eleitor.

Falta a imprensa enxergar e mergulhar no ‘e daí?’

Até que ponto e por que isso pode ajudar a entender o Brasil do momento? E qual ou quais os efeitos possíveis dessa raridade para o Brasil de 2007 em diante? Essas perguntas genéricas são apenas a ponta do iceberg de uma pauta que está implorando para ser atacada, como a proverbial bola que quica na pequena área diante da ‘meta desguarnecida’, como se dizia no tempo em Getúlio goleou o Brigadeiro.

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