Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ministra desmente manchete – e fica por isso

Na edição de ontem, com direito a manchete na primeira página – “Dilma disse a Lula que ação de Palocci pára ministérios” – o Estado deu o que parecia ser um senhor furo de reportagem:

Dias antes da falada entrevista, também ao Estado, em que chamou de “rudimentar” o plano de ajuste fiscal de longo prazo que a equipe econômica vem preparando, a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, tinha encaminhado a Lula um relatório com as queixas dos ministros à mão fechada do titular da Fazenda, Antonio Palocci, e os números comprovando a sua orientação de liberar só a conta-gotas, nas palavras da matéria, os recursos orçamentários do Executivo deste ano.

Como diria o Macaco Simão da Folha: “Buemba!”

Pois hoje, discretamente, no corpo da reportagem “Dilma diz que é Palocci, e não ela, quem está errado”, e num box intitulado, simplesmente, “A íntegra da carta de Dilma”, o jornal dá que ela desmentiu o relatório noticiado na véspera com grande destaque.

“Nenhum relatório com o teor relatado pela reportagem foi produzido pela ministra Dilma Rousseff ou pela Casa Civil”, diz a correspondência, assinada por Aguinaldo Nogueira, da assessoria de imprensa do Planalto. “A Casa Civil é responsável pela articulação interministerial. Esta atribuição não transforma a ministra […] em porta-voz dos ministros.”

Em outra matéria, na mesma página A6, “Para Bernardo, debate é natural”, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, é citado como tendo dito ao correspondente do Estado em Curitiba, Evandro Fadel, que chegara a brincar com a ministra, quando conversaram pelo telefone: “Você costuma falar as coisas na lata e agora vai fazer [sic] relatório?” Ao que ela teria respondido: “Eu não fiz relatório nenhum, não tem nada disso.”

Mais do que depressa, corri os olhos pela página e pelas seguintes em busca da reação do jornal ao desmentido. Nem uma única, solitária palavra: nenhuma contestação à ministra, nenhuma admissão de erro parcial ou culpa integral por uma “revelação” de primeira página que ajudaria a entender melhor o tiroteio entre os dois mais importantes ministros de Lula. Silêncio sepulcral.

Parafraseando o inesquecível “Que país é este?” do político arenista Francelino Pereira, é o caso de perguntar “Que jornalismo é este?”

Não fez escola, infelizmente, a decisão histórica do então editor-chefe do Correio Braziliense, Ricardo Noblat. Num dia, ele deu na primeira página, com exclusividade, o que tinha tudo para ser uma notícia pedra 90. Desmentido, deu no outro dia, na mesma primeira página, em manchete: “O Correio errou”.

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