A cidade de São Paulo – e suas conexões com brasileiros no país e fora dele – vive uma situação inédita. Os meios de comunicação são incapazes de relatar a realidade que a população vive neste momento em diferentes pontos da cidade e que as pessoas comunicam pelos meios de que dispõem. Os grandes sites noticiosos estão sobrecarregados. Aconteceu em escala mundial apiós os atentados de 11 de Setembro de 2001. Emissoras de rádio não têm equipes suficientes para uma cobertura abrangente de qualidade.
Alguns ouvintes – como um amigo que acaba de me telefonar – se queixam de que há sensacionalismo. Algumas emissoras de rádio, em meio à competição por audiência, espalham uma sensação de pânico, avalia esse ouvinte.
(Neste momento dá entrevista uma autoridade, penso que da Polícia Civil, contra o alarmismo espalhado pela rede. Ouço a CBN. Essa pessoa, que ainda – são 17h44 – não identifiquei, diz corretamente que deve haver união com a polícia. Reclama: estamos provocando uma comoção no estado. Convida repórteres a permanecerem a noite toda na sala de comunicação da PM. Boatos de toque de recolher, explosão no aeroporto, em shoppings. Às 17h55: é o comandante da PM, coronel Eliseu Borges. Diz: ‘Não vamos recuar’. E repete. Espalhar boatos sem checar é ajudar a bandidagem, sem dúvida.)
Outras pessoas se queixam da lerdeza dos sites noticiosos, porque já receberam determinadas informações por telefone. Nas redações não há equipes suficientes para processar toda a massa de informações que poderia chegar por messengers e passar por checagem.
Impossível saber qual é o sentimento em determinados bairros, onde a população no dia-a-dia vê a polícia como vilã, porque muitos policiais praticam extorsão e violência. O discurso ordeiro da Globo, por exemplo, não faria aí nenhum sentido.
Há uma fragmentação muito grande. Sente-se falta de um entendimento político da população em torno de determinados valores, entendimento capaz de mobilizar uma maioria ativa para, a longo prazo, exigir novas políticas, e, a curto prazo, ajudar a defender a sobrevivência dos mais fracos. A desordem extrema recai sobre a cabeça dos que têm meios mais frágeis de sobrevivência. O tumulto é aproveitado por pescadores em águas turvas. E, em algum momento, pelos poderosos, onde quer que estejam: no poder, na polícia, na criminalidade.
Algumas pessoas fazem uma leitura que tende a ser superficial e enviezada: a crise aproveita ao governo Lula, logo o governo Lula está por trás da iniciativa do crime organizado. Assim ficca em segundo plano o problema da Bolívia, por exemplo. Mas se esquecem de que para isso seria preciso que o governo Lula contasse com abnegados colaboradores no governo Alckmin/Lembo, que, em continuidade a uma política antiga no estado de São Paulo, cometeram as recentes barbeiragens.
A grande pergunta que a imprensa precisa ajudar a responder agora é: em quanto tempo se poderá restabelecer alguma normalidade?
São 17h59: TV Band News informa que ônibus não circulam amanhã. Se for verdade, ainda não será amanhã o restabelecimento da vida na cidade.