As notícias ruins não param de tirar o sono dos executivos das indústrias da comunicação, mas nas redações de alguns jornais europeus e norte-americanos o pessimismo parece ter sido substituido pela exploração de novas estratégias para recompor a relação entre profissionais e leitores.
É o que salta aos olhos quando se observa o que está acontecendo com jornais norte-americanos na cobertura dos protestos em Wall Street e nas experiencias do inglês The Guardian na produção colaborativa de notícias.
Depois de reagir paquidermicamente ao surpreendente crescimento da manifestção dos autoproclamados indignados do parque Zuccotti, em Wall Street, Nova York, os jornais americanos entraram com tudo na cobertura, com algumas atitudes inéditas e que seriam execradas há alguns meses.
Jornalistas como Nicholas Kristoff, do New York Times, e Eugene Robinson, do Washington Post, dois veteranos dos jornalões norte-americanos, expressaram publicamente apoio aos protestos dos “99%”. O Post destacou um repórter para acompanhar 24 horas por dia o movimento das quase três mil pessoas acampadas há quatro semanas no parque para mostrar sua raiva com o desemprego, a riqueza dos bancos e banqueiros, e com o funcionamento do governo.
O que mais surpreende na cobertura dos indignados é que os jornais passaram a se preocupar mais em contar histórias sobre os manifestantes do que polemizar sobre seus objetivos, estratégias e procedimentos. A tradicional rotina do “ele disse, ela disse” foi deixada de lado em beneficio da busca de contexto social, político e humano dos participantes do protesto.
O repórter Eli Saslow, do Washington Post, conseguiu produzir reportagens que se tornaram referência na redação do jornal, ao contar histórias de pessoas que aderiram ao movimento dos 99%. No domingo (9/10), ele publicou um texto com três personagens: uma advogada aposentada de 67 anos que juntou a sua poupança para vir de ônibus de Santa Monica, na California até Nova York para expressar sua revolta pela disparidade de renda entre os pensionistas e os executivos de bancos; do líder sindical da poderosa AFL-CIO, que passou a circular entre os manifestantes para dar dicas sobre com organizar manifestações; e o produtor de TV desempregado há dois anos que se juntou aos acampados para “sentir calor humano”.
O jornal inglês The Guardian, por seu lado, abriu uma página no seu site onde o repórter Adam Gabbatt fazer a cobertura ao vivo do Parque Zuccotti. Gabbatt usa também ferramentas como Facebook e Twitter para desenvolver a colaboração com manifestantes e os chamados jornalistas cidadãos (amadores).
E por falar em Guardian, o jornal inglês, um dos que mais investe na busca de novas fórmulas de jornalismo online, acaba de cria uma página especial cujo principal objetivo é buscar a transparência na redação. Nela, a pauta diária de reportagens é publicada e os principais repórteres do jornal usam o sistema de micromensagens Twitter para receber sugestões e correções de leitores. A experiência ainda é muito nova para saber como vai se enquadrar na estratégia das “redações de vidro”, em que a transparência informativa é a meta principal.
Nos Estados Unidos, o Pew Research Center incluiu no início da semana a cobertura dos protestos em Wall Street na agenda de notícias monitoradas por seus pesquisadores. O Pew, que é especializado no seguimento de tendências na opinião pública, anunciou que a manifestação dos indignados ocupou 7% do espaço editorial das 53 publicações monitoradas. Um salto enorme depois que o protesto foi ignorado pela imprensa norte-americana nas três primeiras semanas do acampamento no parque Zuccotti, agora rebatizado pelos manifestantes como Parque da Liberdade.
O informe do Pew Research Center apresentada uma comparação que pode funcionar como uma excelente ferramenta para os jornalistas mediram o impacto de seu trabalho. É a comparação entre o interesse do público e o interesse da imprensa. No caso dos protestos em Wall Street houve uma coincidência total no grau de interesse, mas em compensação o viés politiqueiro da imprensa ficou evidente na cobertura eleitoral. Enquanto 12% dos leitores mostraram interesse, a imprensa dedicou 18% do espaço para a campanha presidencial norte-americana de 2012. Na cobertura da crise econômica está acontecendo o inverso. Ela é o tema preferencial de 27% dos leitores contra magros 15% de interesse da imprensa.
Esta é apenas uma pequena amostra do que os jornais e jornalistas mais criativos podem fazer para sair do impasse criado pela crise no modelo tradicional de negócios da imprensa. Aqui no Brasil assistimos medidas extremamente tímidas, motivadas em grande parte pelo fato de a situação economica do país passar por uma fase rósea.
As indústrias nacionais de comunicação mostram uma lentidão inexplicável na hora de promover experiências necessárias à formulação de um novo modelo de negócios, cujo principal dilema é como criar receitas online para compensar o declinante faturamento na imprensa convencional. Em vez de aproveitar a bonança momentânea para testar fórmulas, os executivos parecem acreditar que aqui não haverá necessidade de ajustes traumáticos na estrutura da midia.