Como se dizia no tempo em que também se dizia que come o pau na casa do Noca, é só pena que voa.
O ninho tucano está muito mais abalado pela disputa Serra-Alckmin do que o eleitor poderia imaginar.
Não são apenas os partidários de um e de outro que se bicam com crescente ferocidade e plantam na mídia horrores sobre o time adversário [mais sobre isso logo adiante].
Também os tucanos que não são políticos profissionais ou candidatos a cargos eletivos, mas têm anel de doutor no dedo, resolveram botar para quebrar.
Parece o PT em 1980, diverte-se Lula, citado nos jornais de hoje.
O locus, como diriam alguns daqueles, do seu arranca-rabo, ou arranca-pluma, limitava-se praticamente ao site e-agora [http://e-agora.org.br]
Na imprensa, o primeiro a chamar a atenção para isso, salvo erro ou omissão, foi o colunista Nelson de Sá, da Folha, semana passada.
Mas agora os personagens tiraram as luvas, com perdão pela inadequação da metáfora à ave-símbolo do PSDB.
Sob o título “Tempo”, o criador do e-agora, Eduardo Graeff, secretário do então presidente Fernando Henrique, anunciou ontem no site que resolveu bater asas, ao menos por ora:
“Vou suspender por algumas semanas ou meses minha participação no e-agora. O tempo útil para escrever tem sido mesmo escasso, por razões fora do meu controle. E não vejo graça em gastar o pouco tempo e energia que sobram fazendo contraponto – inútil – à choradeira dos meus amigos Augusto de Franco e Antonio Fernandes. Você já sabe o que penso a respeito, ou pode checar com facilidade se quiser. Acho o coro do já-perdemos analiticamente inconsistente e politicamente prejudicial. A insistência nessa tecla frustra qualquer tentativa deles mesmos, e minha, de fazer daqui um espaço interessante de crítica a Lula e sua turma e discussão de alternativas. É pena, porque custou tempo e trabalho criar esse espaço. Augusto [de Franco] ou [Antonio]Fernandes podem tratar com o Instituto Social Democrata os detalhes práticos sobre a manutenção do site.” [grifo meu]
As razões fora do seu controle são de natureza pessoal – e eu, em nome de nossa estima recíproca, acima de divergências políticas, torço para que desapareçam o quanto antes e da melhor maneira possível. À parte isso, porém, decerto ele já sabia que Augusto de Franco resolvera tornar pública a rinha.
Está lá, na página 3 da Folha de hoje, o seu artigo intitulado “O iminente suicídio do PSDB”. Dele, o jornal escolheu a dedo, para o destaque que acompanha os artigos na seção Tendências/Debates, a seguinte passagem:
“Alckmin x Serra é uma disputa de vaidades, motivada por pretensões pessoais colocadas acima de qualquer projeto coletivo’. [grifo meu]
O que me leva ao que aludi no começo deste texto – a plantação, na mídia, de cascas de banana por uns tucanos contra outros.
Escreve hoje no Estado a colunista Dora Kramer:
“É ser posta esta obviedade à mesa [o fato de que, no período da realização das pesquisas que mostrariam a recuperação de Lula, o PSDB só fez falar de si], “para surgir logo alguém para argumentar que o interesse nas chamadas futricas é alimentado pela imprensa, pois aos jornalistas pouco importam as questões de fundo, os debates de conteúdo, a discussão sobre o essencial.”
Tenho a pretensão de achar que nenhum outro jornalista critica mais do que eu a acabrunhante escassez de “questões de fundo, debates de conteúdo, discussão sobre o essencial” no noticiário político.
Mas, desta vez, assino embaixo da crítica de Dora aos que culpam os mensageiros pela esqualidez das mensagens.
Sim, existe – e como! – o jornalismo futriqueiro, que não só não se limita a publicar intrigas políticas, fazendo crer que política é essencialmente isso, mas ainda induz os políticos a falarem abobrinhas estragadas uns dos outros.
Só que no caso do PSDB, como basta ver pelo artigo de Augusto de Franco, a imprensa nem precisa estimular o aviário a trocar as questões de fundo pela fofocaiada superficial.
Quando o que move – ou imobiliza – um partido são as “pretensões pessoais acima de qualquer projeto coletivo” denunciadas pelo tucano de Franco, não há hipótese de a imprensa fazer pelo partido o trabalho deixado para lá de abordar as questões de fundo, os debates de conteúdo, a discussão sobre o essencial.
E justiça se lhe faça, mais de uma vez os jornalões cobraram dos tucanos, em editoriais, menos vaidades, rasteiras e desnorteamento e, se não um projeto coletivo, um mínimo de idéias sobre os rumos que o país deveria tomar.
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