A decisão do jornal inglês The Guardian de optar pela versão digital como sua principal estratégia editorial deflagrou um forte debate onde as posições tendem a uma dicotomia que, ao que tudo indica, não corresponde à realidade.
Para o Guardian, a publicação de notícias vai, cada vez mais, a ser feita em espaços virtuais, ou seja na Web. O papel estaria perdendo sua posição hegemônica como veículo para mediação entre produtores e consumidores de informações jornalisticas de atualidade.
O debate gerado pela opção do jornal inglês polarizou um problema que na realidade não implica a substituição ou fim de uma plataforma de publicação por outra, mas conduz à uma complementaridade de veículos de comunicação. Uma complementaridade que está ligada diretamente à diversificação de plataformas, onde as iniciativas bem sucedidas serão aquelas que souberem explorar melhor as potencialidades de cada meio.
Assim, o papel não vai desaparecer, porque os jornais não sumiram com a invenção do rádio e da televisão. O que aconteceu foi a incorporação de novos canais à ecologia informativa da sociedade. Mas da mesma forma que ocorreu quando os recursos áudio-visuais se tornaram massivos, também agora a plataforma papel terá que se adaptar à nova conjuntura.
A dinâmica da notícia tornou-se muito mais rápida do que a produção de jornais impressos. Além disso, o jornalista não é mais o único a produzi-la. Há toda uma gama de novos protagonistas na geração de noticias ao mesmo tempo em que ela se transformou num processo, em constante evolução pela incorporação sucessiva de novos elementos por parte dos integrantes da antiga audiência, hoje transformados em coprodutores.
A reportagem está deixando de ser uma unidade informativa sequencial e linear para se transformar também numa narrativa coletiva, onde cada pessoa monta e organiza o conteúdo segundo suas necessidades ou desejos. O jornalista norte-americano Andy Carvi , cobre as rebeliões populares nos países árabes quase sem escrever, pois reproduz no seu twitter informações fornecidas pelo público. A mesma coisa fazem páginas noticiosas como o Texas Tribune, um jornal online sem fins lucrativos, cujos textos se preocupam basicamente em oferecer uma coleção de endereços web onde a informação central é detalhada.
Até agora, a grande função do jornalista era decidir quais as noticias que serão oferecidas ao público. Hoje, o profissional passa a ser mais um orientador, tutor ou melhor, um curador de informações. Mais um conselheiro do que um “porteiro” da noticia.
Este é o grande fato novo no universo jornalistico contemporâneo. Um fato que tem a ver com o surgimento de uma nova plataforma tecnológica, da mesma forma que o jornal impresso é herdeiro da descoberta dos tipos móveis por Johannes Gutenberg. Não é uma questão de valor, uma plataforma é melhor ou pior do que a outra, e sim de como usá-las para obter o maior efeito informativo possível. Cada uma tem a sua especificidade e portanto há lugar para todas.
O jornal impresso não vai desaparecer mas terá que descobrir uma nova função. Ele não poderá dar na segunda feira, um a noticia do domingo de manhã que todo mundo já leu, viu e ouviu na internet, na radio e na TV. O jornal impresso terá que ser analítico e investigativo, especialmente em temas abstratos como por exemplo, a dívida pública.
O The Guardian pode colocar todas as suas fichas no jornalismo na Web, mas isto não significa que outras empresas e outros jornalistas explorem com sucesso o formato impresso. O jornal é uma opção viável economicamente desde que enquadrado no novo contexto onde ele já não pode mais ser a grande locomotiva de conglomerados empresariais no setor da comunicação.