Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nazismo é coisa séria

Virou rotina, no nível de briga de botequim a que desceu a disputa pelo Planalto, os briguentos se chamarem uns aos outros de nazistas.

O mote é sempre o mesmo: acusar o adversário de imitar o ministro de Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels. Numa frase que entrou para a história – e numa prática que nunca deixou de ser seguida em tudo quanto é tempo e lugar – ele disse que uma mentira, repetida à exaustão, vira verdade.

Os políticos gostam de falar que os desafetos adotam ‘técnicas nazistas’ porque sabem que isso os ajuda a aparecer na mídia.

Hoje não deu outra. ‘FHC acusa Lula de usar métodos nazistas’, noticia o Estado, ao lado de uma foto do ex-presidente de boca aberta e dedo em riste. ‘PT usa técnica nazista da mentira, diz FHC’, em cima de uma foto de Alckmin, ao lado da mulher e da neta – o que, aliás, enfraquece o factóide.

Uma foto de Alckmin no mesmo evento, por sinal, também aparece no Estado. Deve ter sido tirada antes da que na saiu na Folha, porque ele aparece segurando uma bandeira nacional de cabeça para baixo. Alguém deve tê-lo advertido da rata, porque logo aprumou o auriverde pendão. Mas isso é detalhe.

Assim como o escorregão de FHC ao chamar o personagem Fanfarrão Minésio de Fanfarrão Minerva e o seu criador, Tomaz Antonio Gonzaga, de Gregório de Matos.

Agora, usar nazismo para lá e para cá – ‘quem entende de nazismo é o PSDB’, retrucou o chefe da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia – é baratear, vulgarizar, ‘cotidianizar’, o mais monstruoso regime de que se tem notícia. É diluir o seu caráter único na história, incomparavelmente hediondo.

Fernando Henrique Cardoso devia ser o primeiro a saber que com certas palavras não se brincam. Os termos nazismo e nazistas só podem ser invocados em contextos compatíveis com os horrores que lhe são indissociáveis. De outro modo, é um ato de deseducação política.

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