O cineasta Arnaldo Jabor escreveu hoje no Estado um comentário sobre o depoimento do ex-secretário do PT, Silvio Pereira, à CPI dos Correios, que poderia ter sido assinado pelo líder tucano no Senado, Arthur Virgílio. Não pelas idéias. Pela truculência.
O insulto, além de tudo mais, é supérfluo. Quem tenha visto na TV ontem ou lido nos jornais de hoje o que disse, ou melhor, não disse, o depoente já terá formado seu juízo sobre os seus silêncios, negaças e alegações transparentemente falsa. Quem esteja vendo agora o ex-tesoureiro Delúbio Soares fazer o mesmo chegará às mesmas conclusões.
Principalmente depois de se informar sobre o que já saiu das cinco caixas que o Banco Rural e o Banco do Brasil mandaram à CPI, depois que ela determinou a quebra do sigilo bancário de duas empresas do empresário Marcos Valério.
Diante do que aparece na papelada, os silêncios e a malversação da verdade nos depoimentos de Silvio e Delúbio não têm a menor importância. Servem apenas para fazer rir ou chorar, dependendo das inclinações e temperamentos de cada um.
Já o papelório que parece confirmar, pelo menos no atacado, a acusação de Roberto Jefferson de que o PT comprava deputados, tem um efeito mais sério. Faz a gente perguntar, sem ironia, nem retórica: onde vamos parar?
Nada de novo na pergunta. Mas ela nunca esteve tão carregada como agora.
O presidente Lula não está dizendo coisa com coisa. Leiam, se não viram, as suas declarações na inauguração de uma fábrica ontem, no Vale do Paraíba, e ao dar posse ao novo ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner.
Novidade: o governo é mais bem avaliado
E entre uma coisa e outra ele não conseguiu consumar a demissão do ministro das Cidades, Olívio Dutra, para pôr no lugar dele o nome que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, indicou e não aceitou, como quem tem o rei na barriga, que fosse para o lugar de Romero Jucá, na Previdência, como Lula sugeriu.
Enquanto Lula não consegue se recompor, ao menos para fazer as expressões corporais que indicariam que ele está governando o país, a pesquisa do Ibope publicada hoje revela um resultado incomum – que, salvo engano, a imprensa não destacou: mais brasileiros desconfiam do presidente (42%) do que desaprovam o governo (38%).
O normal é o presidente ser mais bem (ou muito mais bem, no caso do Lula safra 2003) avaliado do que a sua administração.
O povão está gostando do crédito mais fácil (com desconto em folha), da inflação em queda e do Bolsa-Família, que já beneficia 6,5 milhões de famílias.
E, embora se possa ler de mais uma maneira os números sobre a percepção a respeito do eventual envolvimento de Lula com o mensalão – o novo nome da corrupção para a grande maioria dos brasileiros – está claro que a sua imagem já não é mais aquela, mesmo para aqueles que não o acusam de ter parte com o escândalo.
Está claro também que, aos olhos da população, era vidro e se quebrou o falatório de Lula sobre cortar na própria carne, não deixar pedra sobre pedra, nunca um governo fez tanto para combater a corrupção no Brasil…
As pessoas vêem como se comportam na CPI os grão-petistas Silvinho e Delúbio (“Mensalão? Nunca tinha ouvido falar”; “Caixa 2? Nunca falei em caixa 2”). Aí vão perdendo a confiança (no partido do presidente) e a esperança (nele próprio).