Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

No jornalismo, a mobilidade é o caminho, não o destino

O professor e blogueiro norte-americano Jeff Jarvis foi muito feliz quando cunhou a frase que serve de título para este post. Parece um jogo de palavras, mas a afirmação carrega um significado oculto que está ligado à proposta da comunicação e do jornalismo.

A multiplicação viral de novos telefones celulares, dos tablets e a miríade de equipamentos miniaturizados para atender às exigências da portabilidade é a causa e A  a consequência da ideia marqueteira de que a mobilidade tornou-se a marca registrada da nova cultura digital.

Mas ao contrário do que é propagado pelos modismos eletrônicos, eles não são o motor das novas tendências, mas sim os balizadores de um processo que vai muito além do simples fato de que as coisas são cada vez mais portáteis.

Se observarmos mais de perto, o que muda ainda mais rápido que os tablets e smartphones são os conteúdos, o que é transmitido. É este fenômeno que nos desorienta e até assusta, porque não se trata de mudar constantemente de lugar, mas alterar a própria natureza de objetos, processos, técnicas e culturas.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman desenvolveu a teoria da modernidade líquida como uma “viagem”  ou reflexão teórica  sobre a instabilidade dos tempos atuais. O pesquisador holandês Mark Deuze foi ainda mais longe e criou a expressão jornalismo líquido, numa pesquisa num trabalho sobre as mudanças ocorridas no ambiente de trabalho dos jornalistas e dos comunicadores em geral.

A velocidade com que os fabricantes lançam novos equipamentos tem mais a ver com a concorrência e com a conquista de mercados do que com a mobilidade. Mas independente dos interesses e estratégias comerciais, existe uma relação entre a inovação e a mudança no nosso quotidiano.

A inovação é o resultado da velocidade imposta pelo sistema digital na circulação da informação e, consequentemente, na produção de novos conhecimentos e novos produtos. O que antes levava um ano ou mais para ser atualizado, agora pode ser feito em questão de horas.

Isso, obviamente, impactou a vida das pessoas que estão sendo levadas a se acostumar com a mudança permanente, situação em que a insegurança passa a ser uma consequência inevitável.  O que passa agora a preocupar não é se a mobilidade é boa ou ruim, mas o que ela está mudando. Não se trata de discutir o meio, mas a mobilidade da mensagem, que é a matéria-prima dos jornalistas.

O marketing tenta vender a imagem de que no futuro tudo será móvel, estratégia que embute a ideia de que o processo se desenvolve com base no consumo incessante de novos produtos. Ninguém tem bola de cristal, mas é possível  vislumbrar a sobrevivência, na comunicação e no jornalismo, de muitos ícones da cultura analógica. O móvel é mais um item no menu de meios de comunicação e está longe de ser uma espécie de exterminador do futuro no jornalismo.

O segredo vai estar na definição do que comunicar — e como. Uma tecnologia nova com conteúdo velho é tão inviável quanto uma mensagem inovadora em veiculo defasado. Este processo afeta todas as áreas da informação, e nele o jornalismo tem um papel insubstituível porque é a atividade mais capacitada a entender a relação entre público e comunicadores.

O jornalismo líquido de Mark Deuze na verdade é um jornalismo de transformação permanente, onde o que muda não são os equipamentos e as técnicas de comunicação, mas o ambiente impactado pela notícia. O contexto social da informação é onde ocorre a grande mobilidade de ideias e conhecimentos.