Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

No Soy Cuba

Dá nostalgia um tempo em que havia em Cuba imprensa com certo grau de independência. No documentário Soy Cuba, o Mamute Siberiano, do brasileiro Vicente Ferraz, mostra-se uma crítica adversa publicada à época na imprensa cubana sob o título “No Soy Cuba”, sobre o documentário soviético Soy Cuba. Hoje, no regime de jornal oficial praticamente exclusivo, o Granma, essa liberdade mental seria impensável diante de um filme que mobilizou, como Soy Cuba, recursos e expectativas do governo de Fidel Castro e de seus então aliados soviéticos.


O crítico reclamava, como na época muita gente, que o documentário não refletia o espírito cubano. Funcionava dentro de um molde soviético, ou eslavo, como diz um dos depoentes do bom documentário brasileiro. Soy Cuba, o Mamute Siberiano mostra como o filme saiu logo de cartaz, por falta de público e de apreciação da crítica. Trinta anos depois, seu virtuosismo fílmico o levou a ser redescoberto e consagrado pelos americanos Martin Scorcese e Francis Ford Coppola.


Um depoimento sensacional é dado pelo maquinista de Soy Cuba, cujo nome não aparece no elenco (creio que se chama Ventura). Ele diz que o filme pode ter sido um fracasso, mas que o que ele aprendeu com o diretor de fotografia, Serguei Urussevsky, foi usado em todos os filmes cubanos de que participou depois, e ainda participa. Essas heranças técnicas e estéticas muitas vezes passam silenciosamente, mas têm papel decisivo.


É curioso ver como um dos depoentes diz que o foco, na época, era o Cinema Novo brasileiro.