Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nossa História morreu, viva Brasil História

No final de 2006 uma notícia triste chegou aos amantes de História: o fim da Nossa História, revista aqui celebrada em outubro (ver “O banqueiro e a História”).


Março chegou com uma compensação: a revista vai reviver, com o nome de Brasil História, agora na Duetto Editorial, dirigida por Alfredo Nastari, criador da História Viva (ver “Mundo digital atropela revistas de História”).


Nastari conta, na entrevista abaixo, como foi a operação de que resultou o nascimento da Brasil História.


Alfredo Nastari – A Nossa História, que era editada pela Vera Cruz, deixou de circular por razões que não são de mercado. Foram razões da Vera Cruz que eu desconheço, mas, seguramente, não é porque a revista não tinha o seu mercado. Ela tinha um bom mercado, boa circulação e, de uma certa forma, nós sempre vimos a Nossa História não como uma concorrente direta, mas quase como uma revista complementar.


Conceitualmente, as duas eram muito semelhantes, do ponto de vista da fundamentação acadêmica, de respeito no trato da informação histórica, de ter uma boa base acadêmica, de pesquisa. Só que uma era focada em História do Brasil e a História Viva dá mais ênfase para história geral, tem História do Brasil também, mas o grande carro-chefe dela é História Geral.


Com o desaparecimento da Nossa História, ficamos diante da encruzilhada do que fazer: se nós simplesmente tentaríamos absorver esse público com a História Viva e deixaríamos que outros títulos absorvessem esse público também, ou se a gente partiria para fazer uma revista exclusivamente de história do Brasil, que é uma segmentação dentro de uma segmentação.


Quando analisávamos a Nossa História dava para perceber claramente que eles tinham uma penetração no Ensino Médio maior que a nossa, porque eles estavam mais ligados com os currículos de Ensino Médio, um professor de História do Brasil consumia preferencialmente a Nossa História.


Então, diante do fato de que existia mercado, de que a redação que fazia a revista ficou solta, achamos que era o caso de absorver essa redação e lançar uma revista de História do Brasil. A História Viva continua com História do Brasil, mas vai se reposicionar com relação a isso, quer dizer, nós dávamos várias matérias pequenas e vamos passar a dar uma matéria grande, com profundidade, de maior fôlego, no mesmo nível das outras matérias que a gente dá.


Então, História do Brasil entra num mix da História Viva como um dos assuntos de um cardápio variado e, como revista de História do Brasil, a gente tem possibilidade de fazer coisas muito mais pontuais e de mergulhar muito mais fundamente na História do Brasil.


A redação da Nossa História era no Rio…


A.N. – Era e vai continuar sendo. Isso também pesou isso na nossa decisão. Estamos abrindo um escritório no Rio de Janeiro, até porque nós queríamos ter um aporte maior de conteúdo carioca nas nossas revistas. No Rio de Janeiro há arquivos fantásticos. A distância cria problemas operacionais grandes. Nem sempre a gente consegue xeretar convenientemente os arquivos do Rio de Janeiro. Com isso, a gente pretende ter uma penetração maior no Rio e ter mais conteúdo carioca.


Ela já tem sede?


A.N. – Nós estamos definindo a sede.


E quando começa a circular?


A.N. – O lançamento é daqui a uma semana. Ela já entrou em gráfica.



Capa do número 1 de Brasil História.


Como vocês conseguiram trabalhar com tanta rapidez?


A.N. – Quando eu soube do fechamento, eu os procurei para comprar. O Dr. Aloysio Faria falou: “Não tem negócio aqui. Isso não é negócio, não interessa”. Eu falei: “Bom, mas e se eu contratar a redação, algum problema?”; “Nenhum”. De certa forma, eles até apoiaram isso, pensando no interesse dos profissionais.


No fundo, eles estavam muito bem estruturados, tinham uma equipe, desistiram de fazer, não se opuseram a que nós fizéssemos. Nesses quatro anos em que as duas revistas conviveram no mercado nós sempre tivemos uma relação muito cordial, muito respeitosa de parte a parte, e isso pesou agora.


Pegamos uma coisa que estava em andamento, articulada. Evidentemente, fizemos um projeto editorial e gráfico absolutamente original. Estamos fazendo algumas mudanças significativas.


O que a gente herda de bom, além disso, são os colaboradores. Nesse número 1 temos o Evaldo Cabral de Mello, Mary Del Priore, que já vinham colaborando com a Nossa História e que agora passam a colaborar com a gente.


Como foi a trajetória dos Temas Brasileiros?


A.N. – A História Viva tinha duas séries de especiais: tinha Grandes Temas, que eram temas internacionais, e tinha Temas Brasileiros, até para suprir a oferta de conteúdo brasileiro. Esses Temas Brasileiros vão deixar de existir como especial da História Viva e vão passar a ser especiais da Brasil História. A História Viva vai ficar exclusivamente com os Grandes Temas e a Brasil História passa a fazer edições especiais trimestrais com temas brasileiros. Tem um último que está saindo agora com a marca da História Viva, o Brasil holandês. Esse vai ser lançado agora, praticamente junto com a Brasil História, mas porque já estava fechado.


São edições economicamente compensatórias?


A.N. – Eles vendem satisfatoriamente, eu não diria que são exuberantes, mas como eles carregam pouco custo fixo. Na verdade, a vantagem de fazer especiais é que eles custam mais barato do que a revista mensal, porque a revista mensal tem que pagar a conta inteira: aluguel, custos fixos.


Como é a equipe que faz os números especiais?


A.N. – Eu tenho uma trinca: um editor freelancer, um editor de arte e um pesquisador iconográfico, e uso a estrutura da Duetto. Só tenho esses custos diretos. É uma experiência interessante, sim, não é exuberante do ponto de vista de circulação e do resultado, mas as edições se pagam, consolidam nossa posição em banca, ajudam a fortalecer a marca, atendem segmentos de mercado. Não tem por que não fazê-las. Nós acabamos de fazer uma agora na História Viva, a capa é o leão britânico, sobre a Inglaterra.


(Transcrição de Raiana Ribeiro.)


Clique aqui para ler balanço da trajetória de Nossa História, feito por Cristiane Costa, que a editava e agora edita Brasil História, e entrevista do editor da Revista de História da Biblioteca Nacional, Luciano Figueiredo.