A crise dos jornais e a polêmica sobre o blogs ressuscitaram o debate sobre os limites entre notícia e opinião, num momento em que a imprensa, principalmente os jornais, quebram a cabeça para descobrir qual a preferência do público. Notícia e opinião foram o tema central de um debate realizado na semana passada no Museum of Television & Radio (Museu de Televisão e Rádio), em Nova Iorque, e que foi transmitido via internet. O fato novo foi a polêmica desatada em torno do surgimento dos weblogs plataforma para a manifestação de opiniões pessoais. Como já são quase quarenta milhões de blogs em todo mundo, teoricamente teríamos igual número de opiniões, ao acesso de um bilhão de internautas em todo mundo. Ou seja uma fantástica cacofonia opinativa. A maior parte dos quase 30 participantes, em sua maioria jornalistas e blogueiros famosos nos Estados Unidos, concorda que a tendência moderna é no sentido de valorizar a opinião pessoal, como prova a enorme audiência de alguns blogs políticos, cujos autores não escondem suas opções ideológicas ou partidárias. Quase todos acreditam que a crise de credibilidade na imprensa norte-americana não é uma consequência da maior incidência de opiniões no noticiário corrente e sim de problemas surgidos na apuração de notícias e reportagens. O consenso para aí. A questão da transparência dividiu os participantes entre os que acreditam ser esta uma pré-condição para que a imprensa reconquiste a confiança do público, e os que não vêem relação alguma entre credibilidade e a identificação de antecedentes, hábitos pessoais e relacionamentos de um reporter. Jeff Darvis, um jornalista e blogueiro, defende a transparência como uma forma de ‘acabar com os segredos da fábrica de salsicha‘ (trata-se de uma referência à composição de uma salsicha comum, que muitos consideram no mínimo enigmática). Outros defensores da transparência afirmam que um dos elementos para avaliar a credibilidade de um repórter ou comentarista é o conhecimento de suas preferências pessoais, círculos de amizade, histórico profissional e pessoal. Citou-se, por exemplo, a necessidade de informar se o autor de uma reportagem contra o cigarro é ou não fumante. Os críticos da tese da transparência afirmaram que este tipo de rigor na aplicação da transparência informativa viola a privacidade do repórter, da mesma forma que a confiabilidade de uma reportagem não poderia ser determinada pelo currículo do autor. Defendo a idéia de que as notícias transmitidas por um jornalista não podem ser consideradas quimicamente puras, porque sempre há o fator humano, onde entram em jogo elementos como formação cultural, valores individuais, experiência, capacidade fazer juizos críticos etc etc. Os jornalistas também não podem ser considerados os donos da verdade e nem os juízes sobre quem está certo e quem está errado, ao informar sobre um fato noticioso. A função de um repórter ou comentarista é ajudar o público a tomar decisões. Jeff Jarvis, por exemplo, acha que o público tem o direito de conhecer os fatores que podem estar influenciando o trabalho do profissional. A grande questão parece ser não o problema de como diferenciar opinião e notícia mas sim quando ocorre uma infiltração de preferências pessoais dentro de uma reportagem que os leitores usarão para tomar decisões. Visto por este ângulo, o problema é como separar o joio do trigo. Ai sim, a questão do histórico e das preferências pessoais do autor ganha importância porque permite ao leitor maiores possibilidades de identificar preconceitos, o que os americanos chamam de ‘bias’, ou seja preferências ocultas, favoritismos ou beneficiamento intencional. A transparência passa a ser uma ferramenta essencial não para impedir a manifestação de opiniões, o que é legitimo no jornalismo, mas sim evitar que ela se dissimule dentro de uma notícia ou comentário, influenciando de forma oculta as percepções do público. Conversa com os leitores: Fiquei alguns dias sem colocar nenhum texto novo porque iniciei a preparação de um evento sobre observação da mídia e acabei ficando sem tempo para pesquisar e escrever o Código. Houve acúmulo com outras atividades, como aulas e a preparação de um livro que estou escrevendo sobre jornalismo e cultura digital. Esta explicação é necessária porque acho que o autor de um blog cria entre seus leitores uma expectativa permanente por material novo para reflexão e informação. Quando esta expectativa é frustrada, a consequência é a perda de confiança. Há momentos em que somos obrigados a correr este risco, mas vou tentar minimizá-lo o máximo possível. Obrigado.