Notícias esparsas divulgadas durante esta semana, que trazem personagens secundários da crise política e moral, podem conduzir conclusões surpreendentes. Indo de trás para a frente no calendário, temos hoje no O Estado de S.Paulo a reportagem ‘Comércio lidera o ranking de multas’, na qual se lê que o setor foi o mais multado pela Receita Federal, no período de janeiro a julho deste ano: o governo está cobrando R$ 6,964 bilhões, de 1.552 estabelecimentos. A quantia equivale a 696 vezes o que o publicitário Duda Mendonça disse ter recebido nas Bahamas. Segundo a Receita Federal, o comércio suplantou a indústria – setor recordista em multas no ano passado – depois que a fiscalização passou a ter acesso à listagem dos cartões de crédito com faturas acima de R$ 5 mil por mês. Anteontem, dia 11, o colunista Luís Nassif, na mesma Folha, assinou o texto ‘Os meios e os fins’, no qual se tem uma das melhores análises sobre o comportamento da imprensa no acompanhamento da crise. ‘Há alguma coisa de visceralmente errado na cobertura da CPI do Mensalão’, diz ele. ‘Nem se discuta o mérito do episódio. A cada dia fica mais claro um esquema inédito de controle dos negócios do Estado. Os depoimentos revelaram uma estrutura com cabeça, tronco e membros. E dificilmente o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu escapará da condenação política pela montagem do esquema. ‘Há muito a apurar no crescimento expressivo das aplicações de fundos de pensão do esquema, desde bancos suspeitos, como o Santos, o Rural e o BMG, até bancos até agora insuspeitos, como o Pactual. Há inúmeros episódios ainda nebulosos e que talvez jamais sejam desvendados. ‘Mas a sede por novidades, a guerra santa, está reproduzindo o mesmo mal cheiro exalado pela campanha do impeachment de Fernando Collor, na qual, em determinado momento, não se sabia onde a falta de escrúpulos era maior: se nos investigados ou nos investigadores. Se Luiz Inácio Lula da Silva resolveu declarar guerra às elites e à mídia, a melhor resposta é o trabalho sistemático e profissional de apuração dos fatos. Contra a onipotência, as leis; contra a falta de escrúpulos, os limites da ética. ‘Em nome da guerra santa, não se pode transformar o deputado Roberto Jefferson em figura reverencial. As honrarias que recebeu -convite para palestras sobre reforma política pela Associação Comercial de São Paulo e pelo Centro Acadêmico XI de Agosto, do largo São Francisco- são episódios vergonhosos’. Muito interessante. O presidente da Associação Comercial de São Paulo, que está entre os empresários que mais se expõem contra a Super-Receita, que, por coincidência, já tem o comércio como setor líder na aplicação de multas, por outra inacreditável coincidência é a mesma que convidou o deputado que é réu confesso em operação caixa 2.
(A propósito, correm dois burburinhos de Brasília sobre a crise: um, garante que novo constrangimento vai afligir o governo por causa do estouro do cartão de crédito de um dos parentes mais próximos de importantíssima personagem da República; outro, indica que intervenções do deputado ACM Neto na CPMI dos Correios baseiam-se em informações apuradas pela reportagem de uma importantíssima rede de televisão).
Voltando para a folhinha, tem-se na Folha de S.Paulo de ontem a reportagem ‘MP da ‘Super-Receita’ está ameaçada’, tratando da Medida Provisória que pretende reunir em um único órgão a arrecadação e a fiscalização do pagamento de impostos federais e contribuições das empresas à Previdência Social. ‘Do lado empresarial’, diz o jornal, ‘o crítico mais visível da medida é o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, ligado ao PFL. Afif foi um dos líderes do movimento que derrubou, no primeiro semestre, a MP 232, que tentou elevar a tributação sobre prestadores de serviços e outros setores. O empresário defende que mudanças na área tributária sejam propostas por projetos de lei, e não MP’.