Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O antídoto da desinformação na supertempestade Sandy

A supertempestade Sandy não provocou apenas uma sucessão de tragédias  humanas e financeiras na região de Nova York. Ela tornou-se um estudo de caso sobre como a internet pode gerar desastres informativos e, logo em seguida, neutralizá-los.

Passado o susto causado por notícias sem fundamento, resulta surpreendente que elas não tenham provocado um previsível pânico e que a desinformação foi autocontrolada sem maiores traumas. 

A supertempestade, batizada assim pela mídia norte-americana depois que Sandy deixou de ser um furacão, provavelmente entrará para a história da comnunicação como o primeiro grande caso de autocorreção de um processo desinformativo de larga escala.

O exemplo que mereceu mais atenção foi o da suposta inundação da Bolsa de Valores de Nova York, a maior do mundo. O primeiro boato surgiu às oito da noite do dia 29/10 num tuíte assinado por comfortablysmug e que afirmava estar a sala do pregão da NYSTE debaixo de três metros de água.

A mensagem foi imediatamente retuitada (passada adiante) 600 vezes em menos de 15 minutos, pois uma inundação de tais proporções num local que praticamente controla a economia mundial teria consequências planetárias.

O boato chegou a ser reproduzido por alguns veículos da imprensa norte-americana, como a rede de TV CNN e o site do jornal The Washington Post.  Mas em vez de assumir proporções de furacão alarmista, o boato da inundação começou a perder ímpeto quando, no Twitter e em blogs, vários internautas passaram a duvidar da veracidade da informação.

Pelo menos 200 pessoas, em sua maioria sem qualquer formação jornalística, começaram a coletivamente a investigar detalhes e descobriram,  por exemplo, que o autor do boato original era Shashank Tripathi,  assessor de Christopher  Wight ,  político republicano no estado de Nova York.  Trupathi foi denunciado horas depois de soltar o boato, teve que renunciar à assessoria já na manhã da terça feira (30/10) e pedir desculpas publicas por meio do Twitter .

O caso da bolsa de Nova York não foi o único boato que circulou pela internet durante a passagem do Sandy. Outras notícias não confirmadas davam conta de uma enorme explosão numa subestação elétrica no lado oeste da rua 13, em Manhattan. O metrô de Nova York também foi objeto de uma intensa onda de boatos, quase todos eles prevendo que os primeiros trens voltariam a circular somente depois de uma semana, o que acabou não acontecendo. 

Serviços como o Twitter, Facebook e blogs ganharam uma enorme relevância como fontes de informação porque a  falta de energia elétrica tirou do ar várias emissoras de TV e paralisou a circulação de jornais.  Era normal que a boataria corresse solta num ambiente de perplexidade e tensão.  O inesperado foi que. em meio à desinformação, os próprios blogueiros e tuiteiros tomaram a iniciativa de checar as notícias somando-se ao esforço de jornais, rádios e tevês.

Paralelamente, a blogosfera também foi protagonista ativa em redes informais de notícias e imagens criadas por veículos da imprensa, como o Canal Meteorológico (Weather Channel)  e as emissoras de radio WINS e WYNC, que concentraram suas coberturas basicamente em notícias fornecidas pelo público.

Apesar de todas as condições favoráveis a um desastre informativo, este não aconteceu porque  as pessoas já começaram a se dar conta de que a checagem de notícias tornou-se uma característica tão marcante da internet quanto a avalancha informativa , especialmente nos momentos de crise.