A polêmica em torno da credibilidade e veracidade na internet subiu de intensidade depois que ninguém menos que Sir Tim Berners-Lee, o criador da Web, defendeu a instituição de um selo de confiabilidade para cada página publicada na rede.
A sugestão provocou uma avalancha de críticas e aprofundou as divergências entre os que querem medidas imediatas para conter a circulação de rumores e boatos na Web e os que propõem a busca de soluções inovadoras sob a alegação de que a estrutura descentralizada da rede impede um controle efetivo.
Berners-Lee [ao lado] formulou sua polêmica proposta numa reação aos boatos que circularam pela rede segundo os quais a entrada em uso do acelerador de partículas atômicas no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN) provocaria uma implosão nuclear. Esta fantasiosa versão circulou intensamente na internet nos dias que precederam a inauguração do acelerador, no início de setembro de 2008.
Pouco antes, surgiu também uma onda de rumores de que a vacina contra caxumba, rubéola e sarampo (vacina tríplice) poderia causar autismo entre crianças e adolescentes. Os boatos provocaram a maior queda no número de imunizações de crianças inglesas desde que a vacina foi descoberta.
E uma semana depois da declaração do “pai da Web”, estourou o caso United Airlines, (discutido aqui no Código) quando um conjunto de erros informativos na internet quase provocou a falência da segunda maior empresa aérea dos Estados Unidos.
Sir Tim está muito preocupado com a facilidade com que os boatos se espalham na rede e também com o crescimento do poder de grandes empresas na internet. Por isto ele acaba de criar uma Fundação Web, para encontrar soluções para o problema da credibilidade, defender a independência da rede e a democratização do acesso por meio da Web sem fio.
Mas a proposta de rotular páginas foi criticada por gente como Adam Rutherford [ao lado], um dos editores da prestigiada revista cientifica Nature, da Inglaterra. Rutheford disse que a origem dos boatos, tanto sobre o acelerador de partículas como sobre a vacina tríplice, foram originalmente publicados na imprensa tradicional e só depois circularam na Web.
“Berners-Lee não é nenhum louco mas ele deve saber que é inviável rotular páginas Web. A rede cresce a base da seleção natural. O que funciona bem sobrevive, sem que o processo seja supervisionado por ninguém”, disse o editor da Nature num artigo publicado pelo jornal inglês The Guardian.
Lee não mencionou qual entidade assinaria os rótulos de credibilidade e nem quais os critérios adotados para emiti-los. Uma possibilidade seria a sua Fundação Web, mas ele não tocou no assunto.
O diretor da escola de jornalismo da Universidade de Nova York, Jay Rosen, um dos ícones da blogosfera, entrou na polêmica sugerindo que o rótulo de credibilidade fosse obrigatório também para os jornais impressos, caso a medida seja aplicada às páginas noticiosas na Web.
A sugestão tem toda a cara de provocação para tentar puxar a imprensa convencional para o debate em torno da confiabilidade em informações publicadas na Web.