As pesquisas sobre comportamento dos usuários de sites noticiosos na Web apontam dados que tornam cada vez mais difícil prever quais serão as prováveis estratégias financeiras capazes de garantir a sobrevivência econômica de páginas jornalísticas na internet.
Uma pesquisa do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, que ouviu 20 mil internautas em 12 países, indicou que a maioria deles não admite pagar pelo acesso a notícias online, o que põe em dúvida o sucesso futuro do recurso ao paywall (muro de pagamento) já adotado por jornais do calibre do The New York Times. Nos Estados Unidos apenas 11% dos usuários da internet pagam para acessar o site de jornais, um índice que não registrou aumentos desde 2013. Aqui no Brasil, este percentual chega a 23%, um dos mais altos do mundo.
Para a revista Columbia Journalism Review trata-se de um índice insuficiente para financiar as atuais redações de projetos online nos Estados Unidos. E como isto não bastasse, a mesma pesquisa mostrou que os internautas estão recorrendo cada vez mais ao uso de softwares bloqueadores de publicidade online, especialmente aqueles vinculados a cookies, programas que associam anúncios aos hábitos de navegação do usuário. Nada menos que 47% dos norte-americanos e 39% dos ingleses já usam rotineiramente programas bloqueadores de anúncios online como o AdBlockPlus.org.
A combinação da rejeição do pagamento e da visualização da publicidade online deixa os projetos jornalísticos na Web diante de opções muito complicadas e nada animadoras em matéria de faturamento na internet. As perspectivas são ainda mais desafiadoras quando os prognósticos feitos por institutos de monitoramento dos hábitos de consumidores apontam que até o final do ano, ou no primeiro semestre de 2016, os smartphones devem ultrapassar os tablets e notebooks como plataforma de acesso a noticias. Atualmente 26% dos norte-americanos já acessam notícias usando preferencialmente a telefonia móvel.
A enorme incerteza sobre o futuro das receitas online necessárias para sustentar projetos jornalísticos na Web está levando um número cada vez maior de empresas a apostar na chamada publicidade nativa, ou textos patrocinados, formatados como se fossem noticias jornalísticas. Mas também aí os resultados da pesquisa sinalizam perspectivas pouco animadoras porque cerca de 40% dos entrevistados norte-americanos manifestaram irritação depois de constatar que o conteúdo lido era patrocinado.
O aumento constante do acesso a noticías por dispositivos móveis coloca em evidência uma mudança radical no posicionamento dos consumidores de informações. Até agora os veículos estavam no controle da situação. Eles determinavam o que as pessoas iriam ler e consequentemente condicionavam a agenda pública de debates. Hoje isto está mudando rapidamente. É o leitor que passou a ter o poder de escolher o que vai ler, independente do veículo. É claro que ainda há uma forte influência dos jornais convencionais, especialmente em países como o Brasil, onde a cultura digital está dando os seus primeiros passos. Mas as perspectivas indicam que a mudança é uma questão de tempo.
A partir do momento em que o público passa a ter mais controle sobre o acesso à notícia, a agenda também muda e com isso o contexto político, social e econômico das audiências. Esta mudança já é visível nas redes sociais, especialmente nos segmentos com maior presença do público jovem, cujas preocupações são bastante distintas das que influenciam as manchetes de jornais e telejornais.
Tudo isso confere cada vez mais importância à preocupação com a sustentabilidade de projetos jornalísticos, sejam eles empresariais, iniciativas comunitárias, sem fins lucrativos ou vinculadas a interesses específicos. É um desafio que surge justo no momento em que mais precisamos de informação para poder lidar com a caótica avalanche de dados e notícias na internet. É um dilema complexo porque está cada vez mais claro que a solução não virá de patrocínios governamentais, dado o passivo de desconfiança acumulado ao longo dos anos em relação às políticas oficiais de comunicação. Embora em menor escala, o segmento empresarial privado também padece do mesmo mal.
Sobra assim o público como alternativa. A cada dia aumentam as esperanças de que a solução venha a participação dos indivíduos tanto na produção de informações como na sustentabilidade de projetos jornalísticos. Esta é também uma opção complexa e que ainda vai alimentar muitas discussões, mas não podemos adiá-las indefinidamente.