Como diz o outro, não tenho a solução, mas admiro o problema.
E o problema é o seguinte:
1) Todos temos nossas idéias preconcebidas – para tentar resumir em duas palavras uma infinidade de estados mentais/emocionais através dos quais filtramos a realidade, torturando os fatos até que eles se rendam às nossas verdades.
2) Nas inumeráveis atividades em que isso pode prejudicar o seu exercício, se espera dos que as praticam que, até onde isso for humanamente possível, policiem a sua subjetividade para que não interfira no seu desempenho; essa norma muitas vezes não é seguida ao pé da letra, mas seria muito pior se ela nem fosse considerado parte essencial das respectivas éticas profissionais.
3) Jornalistas, por exemplo, são treinados a se pautar pelo princípio da objetividade, especialmente quando se trata de recolher e transmitir informações; de novo, apesar da eterna distância, menor ou maior, entre o aprendido e o praticado, menos mal que o certo seja não brigar com os fatos.
4) Já o leitor, espectador ou ouvinte nem sequer tem a obrigação de ser objetivo diante da notícia; está livre para registrá-la e integrá-la ao seu estoque de conhecimentos como os seus juízos de valor e suas paixões ditarem – o que não quer dizer que estes prevaleçam invariavelmente sobre a nossa capacidade de discernir entre o que as coisas são, ou parecem ser, e o que gostaríamos que fossem.
5) Daí que nos informamos mal não apenas por culpa ou dolo de quem a repassa, mas também – e às vezes até muito mais – pelas imperfeições dos nossos “aparelhos receptores”, quando não tentamos compensá-las, mediante uma disciplina como a que exigimos dos fornecedores de notícias.
6) Eis enfim o problema por inteiro: erm conseqüência, o direito social à informação, que fundamenta a legítima exigência da honestidade jornalística – mas nada exige, nem poderia, do destinatário do material jornalístico – não raro colide com a propensão individual, induzida ou espontânea, a distorcer a informação recebida; com todos os males que isso acarreta, seja para o modo como percebemos e julgamos o jornalismo, seja para o debate público das questões levadas à ordem do dia pela mídia.
7) No limite, é o direito de saber correndo o risco de ser solapado pela resistência a saber.
Nada do que foi escrito aqui teve a intenção de absolver a mídia de suas freqüentes mazelas. Ao contrário, confrontar o que ela faz com o que ela diz que se propõe a fazer – a premissa maior da observação da imprensa – é o que se diz da educação: dever de todos.
A intenção foi só a de atrair o interesse do eventual leitor para a parte que nessa história toca ao proverbial “outro lado” – o dele.