Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O estranho caso da matéria que sumiu

Dois domingos atrás, a jornalista Dorrit Harazim publicou no Estado e no Globo a matéria de 800 palavras “O (cartão) vermelho e negro”, candidata natural ao próximo Prêmio Esso de Reportagem e ao Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos – ou a quantos mais do gênero em que venha a ser inscrita, no Brasil ou no exterior.

A matéria conta pela primeira vez a história do juiz de futebol José de Andrade, 35 anos, negro. Em dezembro, quando apitava uma partida soçaite na Associação de Oficiais da Polícia Militar de São Paulo, ouviu ofensas racistas do diretor de sede do clube e ex-comandante da ROTA, coronel PM Antonio Chiari. “Pele cor de m…[por inteiro, no original]”, foi uma delas.

Quarenta e cinco dias depois, o juiz deu queixa na polícia. Escreveu Dorrit no quarto parágrafo do primeiro dos três blocos em que se divide a reportagem [os dois outros se intitulam “Pensei que a coisa tinha morrido” e “Eu, que sou branco, senti na pele”] :

“Essa é a história do processo que levou um homem que sempre se sentiu indeciso na vida a buscar seus direitos no Estado brasileiro. Quanto ao coronel Antonio Chiari, citado no B.O. número 396/2006 como autor dos crimes de difamação (art. 139) e injúria (art. 140), ele prefere não se pronunciar por enquanto. Procurado, considerou o episódio insignificante, mas se dispôs a consultar advogado sobre a conveniência de dar a sua visão do ocorrido. A resposta veio pontual, na manhã seguinte: ‘Vou ficar quieto. Meu advogado pediu que eu me manifestasse só na Justiça ou na delegacia. Temos as nossas defesas, que usaremos na ocasião’.

Hoje, Dorrit volta ao assunto, com outro texto de truz, “Inquérito sobre racismo começa e juiz negro é afastado da função no clube”.

Tão ou mais revoltante do que a reportagem original, esta informa que o árbitro foi obrigado a mudar de atividade no clube dos oficiais da PM. E que uma de suas testemunhas no processo perdeu o estágio na entidade. Mais: que na internet circulou um falso pedido de doações em dinheiro para o ofendido – ele denunciou a fraude à polícia.

Mas a matéria de hoje saiu apenas no Globo. O Estado também sempre publicava os artigos e reportagens free-lance de Dorrit.

Não está claro, por exemplo, se o Estado não quis publicar a nova matéria ou se a jornalista resolveu de agora em diante escrever apenas para o Globo.

Uma coisa é certa: aí tem – e coisa boa não é.

Para ler a matéria que só o Globo deu o link é http://oglobo.globo.com/jornal/pais/191906128.asp

Para os não assinantes do Estado, eis a íntegra da primeira matéria [não há link para ela no Globo]:

O (cartão) vermelho e o negro


Manhã de domingo, penúltima rodada do campeonato de futebol soçaite no clube dos Oficiais da PM de São Paulo. O jogo é tinhoso, a torcida animada, a arbitragem severa. Em determinado momento, um dos zagueiros, o camisa 4, leva cartão amarelo. Sua reação é brutal: ‘Você tinha de ser dessa cor de m…[todos os palavrões por extenso no original] para fazer isso !’, grita, passando os dedos pela pele do braço. ‘Preto! Macaco! Olha a sua pele, cor de m…!’. É expulso de campo. O juiz apita a partida até o final.


O camisa 4 é coronel reformado da PM, ex-comandante da ROTA e Diretor de Sede do clube. José de Andrade Neto é o árbitro. Negro, como o atacante Grafite. É árbitro credenciado pela Federação Paulista de Futebol e contratado do clube para dar aulas de futebol na escola de esportes.


A partida ocorreu no dia 4 de dezembro de 2005. Passam-se 45 longos dias. Até que, numa noite de janeiro, José sai de casa, anda meia hora até o 20º Distrito Policial, zona norte da capital, e registra o boletim de ocorrência.


Essa é a história do processo que levou um homem que sempre se sentiu indeciso na vida a buscar seus direitos no Estado brasileiro. Quanto ao coronel Antonio Chiari, citado no B.O. número 396/2006 como autor dos crimes de difamação (art. 139) e injúria (art. 140), ele prefere não se pronunciar por enquanto. Procurado, considerou o episódio insignificante, mas se dispôs a consultar advogado sobre a conveniência de dar a sua visão do ocorrido. A resposta veio pontual, na manhã seguinte: ‘Vou ficar quieto. Meu advogado pediu que eu me manifestasse só na Justiça ou na delegacia. Temos as nossas defesas, que usaremos na ocasião’.


‘Na hora me deu um apagão’, relembra José, ‘não sei explicar. Parou tudo dentro de mim. Também não sei como continuei apitando até o final.’


Era o terceiro jogo que apitava naquele domingo. As 89 partidas anteriores do torneio iniciado em setembro haviam transcorrido sem incidentes e o clube já se preparava para a festa de encerramento, com churrasco de boi inteiro na brasa. O Ferroviário, time do coronel Chiari, liderava o campeonato e, se vencesse aquela partida, nem sequer precisaria jogar a última rodada. Entre os cerca de 2 mil sócios que chegam a freqüentar o clube nos fins de semana, centenas foram acompanhar as partidas decisivas daquele dia.


Para José de Andrade, o Zé, o campeonato é um bico-bênção: R$ 1.800 para apitar 96 partidas e, ainda por cima, perto de onde mora. Gasta menos de meia hora a pé do clube até a casa de barro que divide com a mãe, duas irmãs, sobrinhos e parte de seus oito filhos. ‘Sou registrado , tenho benefícios e o clube me dá respaldo bom – plano médico, odonto e farmácia’, orgulha-se. ‘Além disso, o novo presidente aumentou a remuneração/hora dos professores de esporte de R$ 8,97 para R$ 10,83. Como também apito jogos da Federação, às vezes cinco por dia, ganhando R$ 35 por partida, vou me desdobrando.’


Segundo ele, a partida que terminou em B.O. policial já começara tensa. O capitão e melhor jogador do Ferroviário estava de cama com caxumba, o time perdia de 3×1 no primeiro tempo e o camisa 10 deles sofria trombadas, se sentia visado e respondia exaltado. Acabou levando cartão amarelo e uma advertência. No segundo tempo, o mesmo camisa 10 cometeu falta, mas, antes que o árbitro o expulsasse, o coronel Chiari se interpôs, com força.


‘Fiquei transtornado, pois o coronel nunca havia gritado antes, só jogava bola, e jogava bem. Achei estranho ele me dar um beliscão e gritar. Dei dois passos para trás, fiquei na minha, parado, e tentei retomar a expulsão do outro jogador. A partir daí foi tudo muito chocante: o coronel me deu um empurrão, eu levantei o cartão amarelo para ele, ele me confrontou:


-Ah é, vai querer me dar cartão, é? Vou ter de sair de campo?


– Por favor, coronel, retire-se.


– Tinha de ser essa cor de m…, mesmo. Preto. Macaco. Tinha de ter essa pele cor de m…’


José não nota, mas sua voz treme. Desvia o olhar ao prosseguir o relato. A família, reunida em volta da mesa da cozinha, ouve em silêncio. Dois de seus oito filhos, de 5 e 9 anos, estão como que grudados ao chão. Nem sequer piscam. As duas irmãs (de 34 e 37 anos, ambas profissionais e aguerridas) borbulham de indignação muda. A mãe, viúva, dona Ana, tem medo da humilhação do filho.


‘Durante uns cinco segundos, me deu um apagão. Fiquei pensando qual atitude tomar. Dei alguns passos para trás, enfiei a mão no bolso, afastei os atletas do deixa-disso e puxei o cartão vermelho’, retoma José. ‘Mas continuei ouvindo a voz do coronel, já fora do campo e com o jogo reiniciado: ´Não sei o que esse preto está fazendo aqui. Vou pedir para o coronel Cacau (coronel Luis Carlos dos Santos, presidente do clube) mandar esse preto embora´. Percebi que, a partir dali, o coronel já estava se referindo ao meu trabalho, não mais à minha atuação como juiz.’


José sempre sonhou em ser jogador profissional. Passou no teste do Palmeiras aos 12 anos, entrou na categoria sub -17, subiu para os juniores, foi emprestado para o Santo André, depois para o São José e relembra ‘os dez minutinhos em que me puseram no gramado do Morumbi, numa partida contra o São Paulo, quando chutei uma bola na trave…’. Paralelamente, dava aulas na primeira escola de futebol da zona norte de São Paulo.


Foi então que o pai morreu e ele murchou. Passou um tempão e desistiu da carreira de jogador. Aos 27 anos de idade, já tendo trabalhado há mais de uma década como professor de futebol, resolveu investir na sua formação. Apesar de só ter o segundo grau completo, comprou livros de técnica em português, ganhou seis manuais de exercícios em italiano e aprendeu sozinho a consultar dois volumes em holandês. ‘É claro que eu não entendia a escrita, mas, pelas figuras, eu deduzia o que precisava ser feito. Minha vivência em campo me dava uma vantagem considerável. Além do mais, como não sou bobo, compro jornal e recorto todos os movimentos de domínio de bola, de passe, alongamento e faço um mural para os alunos’, explica. Além disso, fez curso na Federação Paulista e obteve certificados de árbitro nas três modalidades: futebol de campo, soçaite e de salão. No quarto que divide com a mãe, dois filhos e uma irmã, reinam seus troféus como treinador: seis vezes campeão paulista, três vezes campeão da Taça São Paulo, duas vezes campeão na categoria sub-15.


José lembra que ainda apitou uma quarta partida depois do fatídico Ferroviário x América, sem incidentes. Exceto por uma voz infantil vinda da lateral do alambrado às suas costas:


– Macaco filho da p…


‘Eu preferia não ter olhado, mas, depois de uns segundos, acabei me virando. Era o filho do coronel, ao lado da mãe. Aquilo doeu feio porque eu tinha dado aula para o menino duas vezes. Ao final da rodada, o coronel veio em minha direção. Ainda pensei que viesse pedir desculpas e comecei a pensar no que fazer. Mas ele veio me falar de patentes:


– Você deve ter algo contra oficiais. O Roberval (camisa 10) é tenente e eu sou coronel.


– Não, coronel, isso aqui é um jogo de futebol, nada a ver.


– Você foi parcial, só prejudicou minha equipe.


– Olhe, coronel, a partida já acabou e não vamos mais falar sobre ela.


Fui desviando e ele falando. Passou novamente a mão na pele do braço e repetiu:


– É, tinha que ser, para ter essa atitude…’


A essa altura, o confronto já tinha feito eco no clube. José se lembra da professora Rosana de Fatima Marcondes de Oliveira, uma associada que a tudo assistiu. Ela e seu marido, Laureci Lopes de Almeida, também jogador do campeonato, foram os primeiros a oferecer testemunho na Justiça. E vão cumprir. ‘Ela bateu na cerca, deu um puxãozinho na minha camisa e falou:


– Olha, Zé, você tem de tomar uma atitude. Se não fizer nada, eu vou abrir um boletim de ocorrência.


-Fiquei olhando para ela meio assustado e não respondi nada. Nunca tínhamos conversado antes , só bom dia, boa tarde.


Depois passou o Carlinhos, que falou:


– Você tem sangue de barata, cara, ele te chamou de “preto imundo, sangue de m…”. Se fosse eu, teria quebrado ele na porrada.


– Está certo, falou bem, se fosse você. Só que não é. Eu batalhei para fazer esse curso de arbitragem, batalho para estar dando aula, não tem como tomar uma atitude numa hora dessas. Me botei no meu lugar – sou árbitro, estou apitando. Se dou porrada, a coisa vira pessoal e, como ele é diretor, pode até me mandar embora por justa causa.’


José conta que tomou banho, se trocou e foi para casa. Ainda cruzou com outros sócios, que lhe disseram ter feito a coisa certa. ‘Mas no caminho, a pé, fui pensando: Meu, não sou tão calmo assim, como é que eu não dei um murro no coronel?”


O terreno em que o bisavô Antonio trabalhou como escravo e que mais tarde foi retalhado pela família Zumkeller ainda hoje abriga a casinha de dois cômodos dos Andrade. Foi ali que a mãe e as irmãs de José ouviram seu relato. Foi ali que a irmã Estefânia relembrou que, quando ele era menino e a garotada vinha chamar ‘Zé negão’ para jogar bola, a avó respondia que ali só morava um menino de nome José de Andrade. Passaram a chamá-lo de Andrade.


A partir desse dia, o ambiente no clube mudou para José. ‘Ficou esquisito. Clima mais pesado. Bato cartão, assino caderno, dou poucas aulas por ser verão. Já no dia seguinte fui chamado pelo presidente, que me perguntou o que havia ocorrido. Contei. Ele me orientou para relatar o episódio ao clube e perguntou se eu tinha tomado alguma atitude externa. Respondi que tinha feito um B.O. na delegacia.


– Você está louco? Mas o que foi fazer? Fez B.O. de racismo?


‘Tentei enrolar porque na verdade eu não tinha feito nada, não conseguia decidir nada. O coronel Chiari também me fez saber que queria dar uma palavrinha comigo, mas eu estava tenso. Consultei duas pessoas de lá que sempre me apoiaram e elas me disseram para não ter medo, afinal eu não devia nada. A conversa durou uns 20 minutos. Ele falou de religião, disse que lidava com preto velho e argumentou que sempre perdia a cabeça quando entrava em campo de futebol. Respondi que eu tinha sido jogador profissional sem nunca ter presenciado uma atitude como a dele. O coronel também falou que, a partir da nossa conversa, voltaria a dormir bem. Perguntou se podia fazer alguma coisa por mim. Não, não podia. Achei estranho ele perguntar se eu sabia que ele tinha sido comandante da ROTA.’


Não, José não sabia. Tampouco deve saber que Antonio Chiari foi um dos 43 oficiais denunciados no inquérito do massacre do Carandiru, que resultou na morte de 111 presos. Tenente-coronel à época (1992), sua tropa foi acusada de ser responsável pelo maior número de mortes no Pavilhão 9. Os seis comandantes que participaram da ação foram afastados dos cargos, entre eles Chiari. José também deve desconhecer outros marcos da carreira do coronel, que em nada alterariam a sua convicção de que aquela conversa não fora um pedido de desculpas. Continuou esperando.


Várias semanas mais tarde, cruzou na rua com o mesário do jogo da encrenca:


– Pô, Zé, você nunca teve nada, está é querendo dinheiro. Se o problema é a desculpa, ele pede. O coronel falou que você está querendo levar uma grana. E desculpa aí, Zé, porque ainda não decidi a favor de quem vou testemunhar.


As irmãs contam que José chegava em casa, sentava no chão e ficava calado. ‘Não pensei que ia ser tão pesado’, admite ele.


Avisos não lhe faltaram. Numa manhã, criou coragem, foi até o Fórum da Barra Funda e contou seu caso a dois promotores. Ambos o aconselharam a se certificar solidamente da determinação de suas testemunhas, pois as surpresas costumam ser desagradáveis nessa área. Recomendaram que fizesse bem as contas para ver se agüentaria uma eventual perda de emprego.


O próprio delegado que tomou seu depoimento para o B.O. desaconselhou que arrolasse testemunhas da carreira militar. E uma das advogadas que contatou inicialmente o alertou para a possibilidade de um revertério, com o coronel lhe movendo um processo por danos morais.


De cada conversa José voltava para casa cismado e abatido. ‘Cheguei a falar para minha mãe que talvez fosse melhor fazer acordo com o coronel, deixar ele se retratar em público. Só decidi ir em frente quando me dei conta de que eu iria ficar abaixando a cabeça toda vez que o encontrasse. Sou uma pessoa que demora para tomar decisões, tenho essa personalidade. Mas desde o dia 19 de janeiro me sinto mais inteiro. Já reuni todos os meus filhos de três casamentos – alguns não se conheciam -, coloquei no quarto da minha mãe e expliquei que o pai deles estava nascendo ali. Choramos e brincamos juntos.


“Não sei no que vai dar. Mas sei que o ato que o coronel teve comigo, ele não vai ter com mais ninguém.’


‘Pensei que a coisa tinha morrido’


Empossado há nove meses no cargo de presidente da Associação dos Oficiais da PM de São Paulo (AOPM), o coronel reformado Luis Carlos dos Santos se diz surpreendido com o Boletim de Ocorrência aberto no 20º DP. Recebeu a reportagem em seu gabinete de trabalho.


‘Como cidadão e como presidente não posso aceitar uma coisa desse tipo. Isso, se ocorreu, pois também não sei se realmente houve. Pedi à comissão de assuntos internos que apure os fatos para que, se houve transgressão disciplinar estatutária, eu possa suspender o faltoso. Na época, pedi para que o fato – que me foi comunicado verbalmente – fosse apurado e até esqueci. Cheguei a fazer com que o coronel entregasse um troféu ao juiz para criar um clima mais amistoso e sem rancor. Pensei que a coisa tinha morrido, esfriou, acabou. Tenho ´n` coisas para cuidar aqui e não posso ficar preocupado com briguinha de futebol. Por isso me causou estranheza e fui surpreendido com esse boletim de ocorrência, quase dois meses após o episódio.’


‘Trata-se de um episódio entre duas pessoas. Não posso emitir juízo sobre quem está com a razão porque eu não estava presente. Cada um tem sua versão. Fica o dito pelo não dito e quem vai apurar é a Justiça. O coronel diz que não ofendeu, o outro diz que ofendeu. O coronel diz: ´Saí esbravejando, mas não ofendi da forma como ele colocou´. Não sei se tem outras coisas que a gente desconhece. As pessoas nos surpreendem, a vida é assim.’


– Qual a sua opinião sobre o funcionário José de Andrade?


‘O Zé é um bom funcionário, não posso negar, assim como o coronel é um bom Diretor de Sede. Mas, quando ele apita jogo, como todo juiz, quer ser autoritário, pois é difícil dominar 22 pessoas dentro do campo. Eu mesmo já fui árbitro e tenho experiência. Infelizmente, desavenças entre juiz , jogador e torcida são muito comuns nos nossos estádios.’


– Mas a acusação, no caso, é de ofensa de cunho racial.


‘Não sei, eu não estava lá. O coronel Chiari joga futebol há muitos anos, tem amigos negros, é uma pessoa doce, espiritualista, bastante diferenciada. Pena que hoje ele não esteja aqui para a senhora conhecê-lo pessoalmente. Ele não é de guardar mágoa nem de confronto. É muito doce.’


‘Eu, que sou branco, senti na pele’


João Apolini Filho tem 22 anos, cursa o 3º ano de Educação Física na Uniban e trabalha no clube dos Oficiais da PM como estagiário há mais de um ano. Apesar da apreensão dos pais com a inclusão do filho único como testemunha, o jovem se mostra sereno. Recebeu a reportagem de bermuda , camiseta e cara de sono na manhã da quinta-feira. Pediu para não ser fotografado, em atenção aos pais.


‘Não escolhi ser testemunha, mas, como fui citado, vou me apresentar.Vi tudo e por isso estou tranqüilo para falar. Eu assisti ao jogo de fora do alambrado e no início da agitação eu estava a uma distância de 6 a 7 metros. Mas, na cena forte do coronel Chiari, eu estava a não mais de 3 metros. Para mim, a cena foi tão chocante que comecei a tremer. Estava com outra pessoa do clube e quase entramos no campo para acabar com a humilhação do Zé. Ainda ouvi o coronel levar bronca da esposa: ´Para que fazer esse escândalo todo?´, perguntou ela, e o coronel respondeu: ´Ninguém ouviu e ninguém viu o gesto´. Ouvi, sim, e vi ele passando a mão no antebraço e chamando o Zé de ‘pele cor de c…’. Mesmo eu, que sou branco, senti na pele.’


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