Rebatendo argumento do diretor do Instituto Sensus de que a moderação de tucanos e pefelistas em relação ao presidente Lula influi sobre a desvinculação, na percepção popular, entre ele e as denúncias de corrupção, escrevi aqui anteontem que políticos não formam opinião, o Jornal Nacional sim.
Pode a oposição dizer que o presidente é tal coisa ou qual coisa. Se o JN não der, o impacto disso junto ao grosso da população será restrito”.
Pois ontem o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, um tucano-carcará, foi à tribuna dizer que Lula “é idiota ou corrupto”.
Todos os telejornais deram – menos o JN. Que, em compensação, fez o maior auê com a informação do líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia, segundo o qual parlamentares petistas, seus familiares ou assessores, estiveram no shopping de Brasília onde funciona aquela valeriana agência do Banco Central, quase sempre no mesmo dia em que o publicitário mineiro fazia os seus saques cabeludos.
O insulto de Virgílio – cada partido tem o bolsonaro que merece – era notícia por qualquer ângulo. Pelo fato em si, obviamente, pela posição que o autor ocupa no Congresso e pela grosseria ter sido cometida não numa entrevista, mas do alto da tribuna da Câmara Alta do Legislativo federal.
Nenhum editor do JN é idiota para desconhecer o peso disso. Quem tem a palavra final sobre o que iria ou não ao ar ontem não deu porque não quis.”
Quid pro quo?
Já a matéria exclusiva sobre a sugerida conexão Rural-PT não deixou tão claro quanto seria necessário que o deputado Maia trabalhou com os nomes constantes no registro de pessoas que foram ao edifício nas datas verificadas – e não necessariamente à agência do Rural –, embora seja verdade que várias delas ali estiveram.
Uma dessas pessoas trabalha para o líder petista na Câmara, Paulo Rocha. Ouvido pelo JN ele disse que ela teria ido a um neurologista. O texto não detalhou que o consultório ficava no mesmo lugar. Ficou vago demais para uma notícia tão comprometedora.
Adiante. Um dos visitantes do Rural cujo nome consta da lista de Maia é Jair dos Santos, apontado como assessor do deputado Vicentinho. O JN afirmou que não foi possível ouvir a versão do parlamentar porque ele está na Turquia.
Mas no Estadão de hoje se lê que “a assessoria do PT informou que se trata de homônimo, porque o número da carteira de identidade do assessor não confere com a do visitante da agência”. Por que a Globo não ouviu a assessoria do PT, já que Vicentinho estava fora de alcance?
O JN tampouco deu que funcionários do gabinete do próprio Rodrigo Maia aparecem na sua lista. Estranho, porque ele mesmo avisou o presidente da CPI dos Correios da presença, na relação, de dois funcionários seus e do que íam fazer “regularmente” no Rural.
Não há por que duvidar de que a lista de Maia contenha nomes de pessoas que estiveram na agência, nas datas críticas, por motivos não exatamente inocentes. Mas desliguei a TV ontem com a forte sensação de que também não foi inocente a omissão do xingatório de Arthur Virgílio dirigido a Lula. E de que o JN não se esforçou tanto quanto deveria na matéria das visitas ao Rural. Quid pro quo?