Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O jabuti em cima da árvore

A manchete da Folha de hoje é um prato-feito para os que acreditam no complô da mídia contra o presidente.

Não há nenhum fato fora do lugar no título “Patrimônio de Lula dobra na Presidência” ou no sub “Bens pessoais declarados à Justiça Eleitoral somam R$ 839 mil; 56,6% estão em aplicações financeiras”.

Fora de lugar está a notícia.

Primeiro, porque o espaço mais nobre que existe em um jornal para divulgar informações – o alto da primeira página – merece obviamente informações de importância compatível com o destaque que se lhes quer dar.

O que não é o caso da evolução patrimonial de Lula. Tendo casa, comida e roupa lavada de graça, pode colocar no cofrinho tudo que recebe no fim do mês. E com os juros do Banco Central, o presidente-rentista não tem do que se queixar.

Segundo, e mais grave, porque – tenha sido esse ou não o efeito desejado por quem decidiu pôr o jabuti em cima da árvore –, no Brasil banhado em corrupção política, a reação instantânea do leitor ao deparar com a manchete sensacionalista tem tudo para ser: “Ahá! Aí tem!

Todos os jornais deram o patrimônio declarado à Justiça Eleitoral pelo presidente e seus adversários. Mas nem o Estado, nem o Globo acharam que a informação tinha sustança para entrar na primeira página – mesmo como simples chamada.

O Estado foi de inflação e o Globo de previsão de gastos eleitorais de Lula e Alckmin. Ganharam o dia meramente por terem poupado os seus leitores de um títulão que parece lançar a suspeita de que alguma maracutaia o presidente deve ter feito para multiplicar por dois os seus bens desde que foi trabalhar no Planalto.

Se o patrimônio de Lula dobrou, como ficará, depois dessa manchete, a variação do patrimônio de credibilidade da Folha?

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