Esperei encontrar na Folha de hoje alguma contestação da Rede Globo à excelente matéria de ontem, assinada por Michele Oliveira e Paulo Sampaio, sobre o modo como o Jornal Nacional cobre as andanças dos presidenciáveis nanicos.
À falta do “outro lado”, adiante assim mesmo.
A Globo fez um trato com os chamados “candidatos-traço” – que não pontuam nem 1% nas pesquisas – e com os que não decolam dessa pífia marca para alcançar o nirvana de 5% que lhes daria um lugar nos debates com os candidatos que contam (Lula, Alckmin e Heloísa Helena).
Em troca de duas aparições semanais no JN, com o mesmo tempo daqueles candidatos, os de papelão concordaram em poupar o público de suas inúteis presenças nos debates programados.
Até aí, tudo bem. O eleitor está no lucro.
Mas a maneira pela qual o JN está cumprindo a sua parte no trato é uma rasteira na boa informação.
Segundo a Folha, a emissora não apenas não mostra a farsa que são os alegados “atos de campanha”, feitos para aparecer no JN, dos notórios José Maria Eymael e Luciano Bivar – “com figurantes que produzam uma espécie de movimento eleitoral” atrás deles – como em pelo menos uma ocasião o próprio cinegrafista instruiu um “eleitor” de Bivar a ajudar o engodo da espontaneidade.
”Não olha para a câmera, amigo, conversa com o candidato”, teria dito o cinegrafista.
OK. Nada disso fará a menor diferença nas urnas. Mas faz diferença para o jornalismo. Se é para falar dos nanicos, o dever da Globo, como de qualquer outro órgão de mídia, só pode ser o de revelar, pelo menos numa matéria, o que eles fazem para não parecer o que são.
Ver, a propósito, a nota “Nosso objetivo se chama Jornal Nacional”, de 20 de julho.
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