Jamais se poderá dizer que o presidente Lula não capricha em dar motivo para a imprensa desancá-lo. A sua ‘espantosa incontinência verbal’, como escreve hoje na Folha o colunista Clóvis Rossi, açula o duplo oposicionismo da mídia.
Aquele, legítimo, do qual, no limite, todo governante deve ser objeto – ‘imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados’, na definição de Millôr Fernandes – e aquele, inaceitável, que decorre de sua hostilidade prévia, de fundo ideológico, a esse governante em particular.
A soma das duas modalidades se traduz nas insuficientes críticas, em artigos assinados e editoriais deste sábado, ao ministro do Supremo e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Marco Aurélio Mello – o alvo dos condenáveis ataques de Lula ao Judiciário. Mello costuma atropelar o princípio de que juiz só fala nos autos. Nem quando presidiu o STF deixou de se manifestar fora de hora.
Um exemplo dessa insuficiência está no editorial ‘estadônico’, em matéria de agressividade, da Folha. O comentário registra que ‘não é a primeira vez que o presidente do TSE abandona a discrição que convém a seu cargo’ e ‘falou demais’. Mas a referência ocupa apenas 5 das 95 linhas do texto impresso.
E nenhum jornal se lembrou de citar uma que fosse das manifestações indevidas do Meritíssimo. Publicada, a citação não diminuiria a gravidade da bordoada de Lula, nem valeria como circunstância atenuante para as suas rombudas palavras. Mas talvez fizesse o leitor ver que nesse vexame não há inocentes.