Vocês devem conhecer a história dos teólogos medievais que estavam há uma eternidade discutindo, com base nos textos sagrados e nos escritos dos grandes filósofos, quantos dentes tem um cavalo. Até que um dia o campônio analfabeto que servia as refeições aos luminares criou coragem e lhes perguntou: ‘Por que vocês simplesmente não abrem a boca do cavalo e contam os dentes?
Os teólogos do dia na mídia brasileira são os profissionais do direito que ficam discutindo se os jurados do primeiro julgamento do coronel Ubiratan Guimarães, da PM, entenderam ou não as questões sobre as quais deveriam se manifestar, formuladas pela juíza Maria Cristina Cotrofe que conduzia o processo.
Os advogados do militar conseguiram anular a sua condenação a 632 anos, sob o argumento de que o juri ao mesmo tempo decidiu que ele agiu no cumprimento do dever ao comandar a invasão do Carandiru, e que agiu com excesso doloso, como se uma coisa fosse incompatível com a outra.
Ontem, o repórter Gilmar Penteado, da Folha, começou a ‘abrir a boca do cavalo’ publicando declarações da juíza do caso, depois de localizá-la no exterior, onde passa férias, segundo as quais os jurados deixaram claro que estavam de acordo com a sentença que ela acabara de proferir.
E hoje o mesmo repórter, em dupla com Victor Ramos, completou o serviço. Eles entrevistaram quatro dos sete membros do juri – dois favoráveis à absolvição do coronel, dois contrários. E os quatro (dos quais apenas um preferiu não ser identificado) foram unânimes em dizer que o corpo de jurados votou conscientemente e que a juíza interpretou corretamente a decisão da maioria ao condenar o réu.
Isso é jornalismo em estado puro. A concorrência podia aprender uma coisa ou duas com o trabalho singelo e cabal dos repórteres da Folha.
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