Acabou agora há pouco, da forma como costumam acabar essas tragédias, o suspense em torno da sobrevivência dos 12 trabalhadores soterrados dias atrás por uma explosão na mina de carvão Sago, na Virgínia Ocidental.
Os jornais americanos fecharam ontem com a esperançosa especulação, transmitida pela empresa proprietária da mina, de que 11 dos 12 ainda poderiam ser resgatados com vida.
Verificou-se o contrário: 11 estão mortos e o décimo-segundo, hospitalizado.
Há 55 anos, o genial Bill Wilder dirigiu o que se revelaria o melhor filme de todos os tempos sobre o jornalismo sensacionalista, “The Big Carnival”, exibido no Brasil como “A montanha dos sete abutres”.
É a história do repórter inescrupuloso vivido pelo também genial Kirk Douglas que faz o que sabe e o que não sabe para manter soterrado, dia após dia, um mineiro vítima de um acidente, a quem consegue ter acesso exclusivo, tudo para vender jornal.
Enquanto ele trata de impedir que o trabalhador seja resgatado e namora a sua mulher, a quentíssima Jan Sterling, forma-se em volta da mina o carnaval que serve de título para o filme.
No fim, naturalmente, o operário morre e o repórter parte para outra.
É desse filme a fala definitiva sobre a imprensa de esgoto: “Quando a ficção for mais atraente do que o fato, publique-se a ficção.”
Em nenhuma parte do mundo faltam jornalistas – ou parajornalistas, como escreveu Luís Nassif na Folha a propósito de um deles, no Brasil –, para quem a sórdida sentença será sempre o primeiro mandamento do ofício.
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