No tira-teima da eleição presidencial de 2006, o tucano Geraldo Alckmin, encarnando por ter chegado lá o que pudesse haver de anti-lulismo no eleitorado, teve 39% dos votos válidos.
Passados cinco meses e meia dúzia de dias daquele segundo turno, o sentimento anti-lulista encolheu, a julgar pela pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem e esmiuçada nos jornais de hoje – mas não o bastante para destacar esse fato da maior importância política.
O emagrecimento do sentimento oposicionista, no período, foi muito mais do que proporcional à engorda da popularidade do presidente. Ele foi eleito com quase 61% dos votos válidos. Agora, é aprovado por quase 64% dos brasileiros [e reprovado por pouco mais de 28%].
Mas onde transparece com maior nitidez a desidratação do anti-lulismo é em dois outros resultados da sondagem.
Um revela que perto de 25% dos entrevistados acham que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não vai ajudar o país a crescer. Coerentemente, segundo outra resposta, perto de 26% consideram o governo federal o principal responsável pela crise aérea.
É de apostar que os pessimistas do PAC e os que culpam o governo pelo apagão aéreo são essencialmente os mesmos entrevistados.
Esse, portanto, parece ser o diminuído eleitorado oposicionista: um em cada quatro votantes.
No mais, ouvindo especialistas como a pesquisadora Fátima Pacheco Jordão e os cientistas políticos Fábio Wanderley Reis e Carlos Melo, a mídia apontou com precisão que a grande maioria dos brasileiros dissocia o presidente de tudo que não gosta no país – a começar do próprio poder público [apenas 5% da população confia na instituição governo e ínfimo 1% confia na instituição parlamentar].
Ou, invertendo os termos da equação – numa espécie de ‘não li, mas já gostei’ – 59% dos entrevistados pelo Sensus não ouviram falar do PAC. Mas 58% acham que o programa vai ajudar o país a crescer.
Tudo considerado, o apoio a Lula e a blindagem em torno de sua figura derivam de dois fatores.
Um é o seu ‘inegável talento de comunicador’, nas palavras de Fátima. Graças a isso, passa a idéia de que são os outros, não ele, os que fazem o governo claudicar, na percepção da sociedade.
O outro fator, destacado por Fernando Rodrigues na sua coluna de hoje na Folha, é a política social de que é impossível dissociar a imagem do presidente. Os dados que juntam ‘o nome à p´ssoa’:
Quinze por cento dos entrevistados se beneficiam diretamente do Bolsa Família ou de outros programas de transferência de renda; outros 42% conhecem algum beneficiado; e 66% os aplaudem, em conjunto, porque ‘ajudam a população’ e ‘levam ao desenvolvimento’.
Em suma: hoje como hoje, Lula está com tudo e a oposição não está com nada.
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