O leitor Maurício Tuffani levantou, num comentário sobre o post anterior, uma questão relevante que merece ser analisada mais detalhadamente, não apenas por mim mas, principalmente, pelos demais leitores deste blog.
Maurício afirma que a maioria das escolas de jornalismo deveria ser fechada, e coloca como principal argumento o fato de que a concessão de diplomas de jornalista supera a capacidade das empresas de comunicação absorverem os recém formados.
Os números que o Mauricio está pesquisando sobre a superoferta de graduados em jornalismo são essenciais para que se possa avaliar a situação com realismo e objetividade, mas não tenho a menor dúvida de que eles confirmarão a suspeita de que a maior parte dos recém formados vai direto para as estatísticas do desemprego.
Além deste argumento quantitativo, há um outro não menos impactante. A qualidade do ensino atual do jornalismo está muito abaixo do que a nova realidade informativa exige. Propositalmente não estou usando a palavra mercado, porque não estou pensando apenas em empregos, embora eles sejam importantes.
A maioria das escolas de jornalismo ainda trata a internet e a Web como se ambas fossem um fenômeno passageiro. Também encara o jornalismo online como um modismo e a participação dos cidadãos na produção e publicação de notícias como uma perigosa heresia.
A atividade jornalística está mudando radicalmente. Suas rotinas, valores e normas estão se transformando rapidamente. As empresas e os profissionais estão sendo atropelados porque enfrentam dificuldades para adaptar-se aos novos processos e valores gerados pelas novas tecnologias.
Se a razão de existências das escolas de jornalismo fosse apenas atender às demandas do mercado, então Maurício tem toda a razão. Há escolas demais, formando jornalistas demais para jornais de menos.
Mas é necessário perceber também que o jornalismo começa a ganhar novas funções num ambiente informativo onde as pessoas comuns, os cidadãos estão ocupando espaços cada vez maiores na produção e publicação de notícias.
Este é um fato novo que está mudando a história da comunicação atual, da mesma forma que a invenção dos tipos móveis por Johanes Gutemberg revolucionou a transmissão de informações e conhecimentos a partir do século XV. E esta nova conjuntura está sendo olimpicamente ignorada pelas faculdades de jornalismo, com honrosas exceções não apenas aqui como noutros países.
As pessoas estão assumindo um protagonismo informativo sem terem tido tempo e condições para aprender a usar uma matéria prima altamente complexa e cuja manipulação inadequada pode produzir resultados catastróficos.
Aqueles que chamamos de leitores, ouvintes e espectadores estão deixando de ser uma massa amorfa e passiva para se tornarem proativos, gerando uma demanda, ainda latente, por capacitação e orientação que até agora não foi percebida pela maioria dos jornalistas e pela quase totalidade das escolas de jornalismo.
Na minha opinião, esta é uma alternativa de sobrevivência das escolas. Mas é claro que elas só reagirão, na medida em que forem pressionadas pelos resultados de um debate que já deveria ter começado.