(Ver também, na ordem cronológica:
Attuch sobre coluna de Mainardi.)
Um leitor escreveu:
“Chamar o jornalista de ´dedo-duro´, no meu entender, contém um certo reconhecimento sobre a possível veracidade das afirmativas dele, o que lhe dá crédito. Comparar a atitude do jornalista com episódios de perseguição política – macartismo, dedos-duros no regime militar – é exagerado, pelas diferentes conseqüências do dedo-durismo nesse casos. No presente, trata-se de informações apresentadas ao público leitor e não a uma ´autoridade´ com poderes coercitivos. A informação veiculada, apesar de sua deselegância, apresentou conteúdo informativo relevante para seus leitores. Ou não devemos esperar isso da imprensa?”
A resposta:
1) Não tem cabimento dizer que dedo-duro fala a verdade. O dedo-duro é um informante da polícia, um alcagüete, segundo o dicionário. Alcagüete, ainda segundo o dicionário, é “pessoa que denuncia ou delata outrem”. Sem atestado prévio de veracidade da denúncia. Interessante consultar a etimologia: “esp. alcahuete (1251), este do ár. al-qawwâd ´alcoviteiro, modernamente cáften´; ver alcag- e alcaiote” (Dicionário Houaiss).
Não poderia haver reconhecimento de veracidade. As fofocas de Mainardi são meias verdades, ou mentiras. Deu informações erradas. Por exemplo, um dos citados obedeceria instruções do “Partidão”. O Partidão acabou de morrer depois da queda do Muro de Berlim. Seu autoproclamado sucessor, o PPS, foi fundado em 1992. Eu não quis rebater esse besteirol. Deixei a cargo dos interessados. O Alberto Dines respondeu neste site (‘O macartismo mainardiano em ação‘) e no programa de televisão (‘Temporada de caça à imprensa‘). Paulo Henrique Amorim declarou ao site Comunique-se e repetiu para o Observatório: “Mainardi é um dos 39 candidatos a Paulo Francis. Eu fico com o original”.
2) Para mim, faz sentido comparar o espírito de fofoca politizada denuncista com o tempo da ditadura. Não foi uma comparação sem ressalvas. Transcrevo, do tópico original: ‘No tempo da ditadura, a deduragem em colunas da imprensa foi usada para atacar jornalistas da TV Cultura que acabaram torturados na cadeia. O diretor de jornalismo da emissora chamava-se Vladimir Herzog e foi morto. Os tempos são outros mas o espírito que move esse tipo de ataque é o mesmo‘. Espírito, não práticas idênticas. O tópico, por sinal, chama-se “Alma de dedo-duro”.
A deduragem durante a ditadura foi herdeira de outras. Lembremos a campanha de Carlos Lacerda contra Samuel Wainer, em 1951-53, ou o Plano Cohen, em 1937, ou o episódio das Cartas Falsas contra Artur Bernardes, em 1921, para não ir mais longe. Durante a ditadura, a delação foi além do caso Herzog. Houve em 1977 a famosa denúncia do ministro do Exército, Sylvio Frota, contra “comunistas infiltrados no governo”. Queria derrubar o presidente, Ernesto Geisel. Como se sabe, foi derrubado por Geisel. E as “denúncias”, esquecidas.
3) Os acusadores de Vladimir Herzog e outros jornalistas em 1975 não foram à polícia apresentar denúncias. Usaram colunas na imprensa. Foram, por sua vez, usados pela polícia política para plantar denúncias contra a equipe da TV Cultura – por sinal, infundadas (tratar-se-ia da “comunização” do jornalismo da Cultura, o que nunca houve). Esses manipuladores queriam atingir o chefe de Vlado, o secretário estadual de Cultura José Mindlin, para atingir o governador Paulo Egydio, para atingir Geisel. Mas os dedos-duros não foram só usados. Estavam numa jogada de ocupação dos lugares que ficariam vazios.
4) Se as informações de Mainardi são furadas, e eu assim as classifico, o conteúdo para os leitores não pode ser “relevante”, como diz o leitor. Relevante, penso, é a liberação de antagonismos ferozes de parte a parte – e de boa dose de paranóia política – revelada nos comentários enviados para este blog. O caso merece acompanhamento e reflexão.