Sob um título anódino, ‘Foto no aeroporto’, a Folha publica hoje, no pé da seção Painel do Leitor, uma carta que aborda um problema central do jornalismo – os efeitos indesejados, mas nem por isso menos danosos, de textos e imagens para a vida de pessoas que neles figuram como personagens acidentais, ou, como nesse caso, fazendo algo que é o contrário do que parece.
É verdade, principalmente em casos de fotografias de grupos ou multidões, que muitas vezes nem o repórter nem o editor têm como identificar corretamente quem é quem e quem faz o que na cena retratada. Ou, menos ainda, pedir licença a cada um dos envolvidos para a respectiva publicação. Mas isso não atenua as suas consequências. Razão bastante boa para a imprensa – sempre – ‘perguntar antes de atirar’, mesmo que involuntariamente.
Leiam e julguem:
‘Eu, Gustavo Murad, tive minha imagem exposta, sem nenhuma autorização minha, na Primeira Página da edição de 31/3. E acabei sendo confundido com as pessoas que agrediram uma funcionária de determinada companhia aérea, causando-me profundo constrangimento.
Sou o homem de camisa vermelha que aparece na foto segurando a referida funcionária. E estava intervindo naquela situação exatamente para proteger aquela pessoa dos golpes que foram desferidos contra ela por um terceiro, o que, em nenhum momento foi esclarecido pela reportagem.
Com a referida publicação, além de um imenso constrangimento, sofri abalo em minha imagem, inclusive profissional, uma vez que sou psicólogo e tive minha imagem associada a um descontrolado ato de agressão, que, inclusive, constitui crime, sem que eu tivesse qualquer participação no evento senão a de tentar evitar que uma mulher fosse agredida.’
A Folha deu a carta sem comentários. Não custava nada pedir desculpas ao leitor.
P.S. Manchete ou notinha?
O Supremo Tribunal Federal mandou arquivar, por falta de provas, o inquérito contra o senador petista Aloizio Mercadante – candidato derrotado ao governo de São Paulo em 2006 – em que ele é acusado de crime eleitoral no escândalo da compra do dossiê anti-tucano.
A Folha e o Globo chamaram a história na primeira página. Dentro, o jornal paulista deu o fato em manchete, sobre foto do senador e 142 linhas de texto. O jornal carioca não chegou a tanto, mas deu-lhe título em cinco colunas, foto grande e 70 linhas de matéria.
Esses detalhes interessam pelo contraste com o espantoso critério adotado pelo Estadão, que publicou o fato relevante em raquíticas 16 linhas, numa nota de uma coluna em pé de página.
A grande mídia está longe de ser um monolito.
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