O terremoto financeiro deste final de ano e as ondas de choque que agora começam a atingir quase todos os setores da economia mundial acrescentaram uma dose de dramatismo e urgência à busca de novos modelos de negócio baseados no ambiente digital.
Fomos subitamente colocados diante de um quadro perturbador: de um lado, uma economia que se apoia em ativos tangiveis, e do outro, um sistema baseado em bens e servicos virtuais, cujo crescimento é vertiginoso mas errático, onde o futuro é ainda uma grande incógnita.
Tudo o que se viu até agora em matéria de soluções para a crise foi o velho recurso aos cofres públicos na forma de ajuda emergencial. Pode até prolongar a agonia de empresas como as três grandes montadoras norte-americanas ou os bancos que se atolaram em empréstimos inadimplentes. Mas todo mundo sabe que este tipo de socorro não vai à origem do problema.
O tumulto nos mercados financeiros está servindo de desculpa para disfarçar desajustes econômicos, alguns deles bem antigos, e que ganharam relevância quando a digitalização da economia tornou evidente a necessidade de um ajuste nos modelos de produção.
Antes mesmo do terrorismo financeiro tomar conta de Wall Street, no último trimestre de 2008, já se falava numa nova economia, ao mesmo tempo em que se disseminava no ambiente dos negócios um novo jargão corporativo, associado à soluções baseadas na internet.
A rede mundial de computadores passou a ser vista como um possível eldorado corporativo no início dos anos 1990. Nesta mesma época surgiram duas tendências:
1) A que apostava em ganhos de curto prazo, apoiando-se no fascínio e expectativas geradas pela avalancha de inovações;
2) E a tendência que acreditava em resultados de médio e longo prazos, movida mais por idealistas e visionários do que por empreendedores.
Na virada do século, a explosão da bolha especulativa pulverizou centenas de negócios virtuais baseados na expectativa de lucros obscenos em prazos indecentemente curtos. A ressaca da bolha fez com que muita gente passasse a dar mais atenção aos visionários da nova economia.
Foi nesse contexto que surgiram propostas como a da ‘cauda longa’ (viabilização de nichos econômicos) e a web social, na qual os conteúdos produzidos por usuários passaram a ser a principal matéria-prima para empreendimentos virtuais.
A crise deflagrada em Wall Street abalou a credibilidade nos negócios convencionais, inclusive aqueles que eram considerados sólidos, como o sistema financeiro mundial. Mostrou tambem a fragilidade de indústrias tidas como ícones do capitalismo, como as montadoras de veículos.
Começamos a viver uma nova era de incertezas, onde temos duas grandes alternativas:
1) Apostar no seguro, no certo, no tangível. Significa dar mais um crédito de confiança a um sistema econômico que já não conta com a unanimidade dos empreendedores e cujas rachaduras estão à vista de todos.
2) A outra opção é colocar as fichas numa possibilidade. Na expectativa de uma mudança das regras e valores que regem a economia mundial, para permitir uma coexistência entre o sistema industrial e o virtual.
Economistas como o badalado Hal Varian fazem a apologia da convivência pacífica entre o modelo industrial e o modelo virtual. Varian, bem como Chris Anderson, o criador da teoria da ‘cauda longa’, acham que, no contexto atual, é inviável um sistema único. Embora a economia convencional ainda seja a grande geradora de riquezas, ela não pode mais abrir mão do modelo virtual, porque este garante a rentabilidade de setores-chave, como o financeiro
A economia tradicional aproveitou-se da digitalização e da internet para automatizar processos industriais e de serviços, e para reduzir custos com pessoal. Só que agora a gordura acabou, as demisões tornaram-se endêmicas e ficou difícil esconder as mazelas corporativas.
A coexistência entre modelos econômicos é teoricamente viável e, em alguns setores, pode até ser inevitavel. O problema é que o sistema virtual tem uma dinâmica, rotinas e valores distintos do sistema industrial. Na economia digital, a troca e a recombinação de informações são elementos-chave e a monetização perde muita da importância que tem no mundo contemporâneo.
Varian afirma que a geração de lucro no mundo digital será muito mais lenta do que no sistema atual. Além disso, a colaboração entre parceiros econômicos será tão importante quanto a concorrência capitalista clássica. Ainda é difícil para um empresário convencional ver a colaboração entre parceiros como um processo de geração de riquezas. Mas ela é essencial na recombinação da informação que é a base da nova economia digital.
P.S. Aproveito para agradecer a atenção de todos leitores deste blog durante o ano que está acabando. Um feliz Natal para vocês e a conversa continua em 2009. Um abraço.