Tendo comido mosca na cobertura das badalações cariocas do ex-deputado José Dirceu, o Estado reconheceu a bobeada e acabou indo mais longe do que a concorrência em relação ao que ela mesma noticiou como a mais provocativa declaração do cassado na sua circulada pelo Rio.
Isso é que se chama volta por cima.
Dirceu disse que o poder econômico jamais apoiará Serra porque ele é independente. O petista não deixou de acrescentar que o prefeito tem muitos defeitos, mas o que ficou foi o elogio a ele – e a sugestão implícita de que, tucano por tucano, a banca e a indústria preferem Alckmin.
Em um almoço no apartamento de sua velha amiga, a escritora Leilah Assumpção, Dirceu disse que o establishment quer “um presidente dócil às regras do capital internacional”.
Hoje, além de reconhecer logo no início da sua matéria “Dirceu: elite veta nome de Serra” que a Folha e o Globo saíram na frente com a história, o Estadão foi ouvir o serrista Alberto Goldman, líder do PSDB na Câmara. Ele avaliou que “Dirceu exagerou um pouco”, mas existem, sim, setores do empresariado que gostariam de alguém “mais submetido aos gênios do mercado”.
Mas o melhor da volta por cima do Estadão ficou para o fim, na matéria “Empresariado prefere Lula a Serra, avisa CNI”
Onde se lê CNI, leia-se, naturalmente, Armando Monteiro Neto, deputado pelo PTB pernambucano e presidente da Confederação Nacional da Indústria.
‘Largos setores da comunidade empresarial acreditam que Serra é mais intervencionista. O mercado tem mais medo dele do que do `novo Lula` que emergirá na campanha eleitoral’, disse Monteiro.
Mas acrescentou, porque nunca se sabe o que trará o dia de amanhã: ‘Eu vejo o Serra de outra forma. Ele age com racionalidade na economia. Não o vejo desafiando essa racionalidade’.
Segundo o presidente da CNI, informa em seguida a matéria, Lula ainda conta com o apoio de uma parcela relevante do empresariado – aquela que obteve ganhos durante os seus três anos de gestão e que considera seu projeto de governo ‘equilibrado e de bom senso’.
De qualquer forma, a tese de Dirceu parece ser mais do que mera maldade. Quando Serra era ministro e vivia às turras com o Palocci da época, Pedro Malan, se dizia a toda hora que o atual prefeito era “o homem da Fiesp”, por oposição a Malan, que seria “o homem da banca”.
Não é verdade, contestou anos atrás um jornalista que trabalhava na pirâmide da Avenida Paulista e sabia do que estava falando. “Apenas uns poucos dirigentes empresariais são serristas”, esclareceu. A idéia é que a maioria o considera esquerdista demais para o seu gosto.
Do ângulo jornalístico, faltou o Estado perguntar a Serra e a Alckmin o que eles acham do que Dirceu acha que as elites acham deles. Alguém vai acabar fazendo isso.
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