Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Omissão vale por uma confissão

A Folha resolveu encarar hoje a denúncia de Rogério Buratti [leia nota anterior] de que o repórter Rogério Pagnan, de Ribeirão Preto, levou à ex-mulher do advogado um CD com gravações telefônicas dele contendo ‘pecados pessoais’.

O jornal diz que a intenção de Pagnan era a de que Elza Buratti ‘ajudasse a identificar personagens e códigos usados pelo ex-secretário de Governo de Antonio Palocci Filho’.

Diz ainda que ela ‘foi informada de que havia trechos de caráter pessoal’, que ‘a reportagem sugeriu suprimi-los’, que ela achou isso desnecessário (‘nada mais poderia lhe causar surpresas ou deixá-lá triste’, segundo o texto) e concordou em analisar o material para decidir se daria ou não entrevista sobre os negócios do ex-marido. ‘No fim’, informa o texto, ‘nenhuma matéria foi publicada’.

A matéria traz ainda novas declarações de Elza. Todas para absolver o repórter: o
CD não a constrangeu, ela não revelou a iniciativa da Folha [‘Quem expôs foi ele (Buratti). Só afetou ele.’]

A passagem mais interessante da reportagem, pelo que omite, é a que se refere ao pedido formal de desculpas que ele teria recebido de um repórter especial da Folha, como disse à CPI, ‘em nome do jornal’.

A matéria não confirma nem desmente o pedido. A omissão equivale a uma confissão. Se Buratti tivesse mentido nesse ponto, ou se o repórter tivesse usado o nome do jornal em vão, a Folha decerto se manifestaria. Como não o fez, confessou implicitamente que condena a iniciativa do seu homem em Ribeirão. Se condena, deu razão a Buratti e, por extensão, ao que escrevi ontem.

Transcrevo, a propósito, trechos da nota ‘Lesa-imprensa’, da coluna de hoje da comentarista Dora Kramer:

‘Escabrosa, sob todos os aspectos, a história contada ontem por Rogério Buratti a respeito do jornalista da Folha de S.Paulo… Segundo Buratti, o jornal apresentou desculpas formais pelo comportamento do repórter que, se agiu mesmo da maneira relatada, merece o ostracismo profissional até aprender a se dar ao respeito.’