Os jornais do dia, na autópsia do debate de domingo, fizeram o dever de casa, mostrando onde foi que Lula e Alckmin se apartaram da verdade, ao inflacionar fatos e números favoráveis a si e a deflacionar os outros. E nenhum diário foi mais condescendente com qualquer dos candidatos.
Eis um serviço público essencial, porque o espectador, nem na hora, nem depois, tem como separar o joio do trigo. A imprensa tenta impedir assim que os políticos passem a perna no distinto. Pena que o leitorado brasileiro de jornais seja uma fração da audiência da TV.
A Folha ainda se deu o trabalho de relacionar o que de mais importante cada um deixou de responder ao outro. E o seu repórter Rogério Pagnan descobriu uma raridade: um petista desmentindo uma afirmação factual de Lula.
O líder do partido na Assembléia paulista, Ênio Tatto, contestou o presidente por ter ele dito que a companhia de habitação do Estado (CDHU), sob a presidência do tucano acusado de sanguessuguismo Barjas Negri, contratou empresas ligadas ao suposto parceiro dele, Abel Pereira.
‘A CDHU tem bastante processo, alias é a que tem mais processo no Estado, mas essa empresa do Abel Pereira não tem processo não’, informou Tatto com singeleza.
É mais fácil fazer a mega-sena do que um político, de qualquer partido, vir a público dizer que o seu candidato presidencial se enganou – ainda mais na sua primeira pergunta ao adversário que acabara de acertá-lo com um golpe duro (ou baixo, a gosto do freguês) num debate televisivo que está dando o que falar.
P.S.
Não entendi o raciocínio da reportagem de página inteira no Valor, segundo a qual o impacto eleitoral do Bolsa Família dependeu da região. ‘Municípios mais beneficiados do Norte e do Nordeste dão mais votos a Lula do que os do Centro-Sul’, diz o antetítulo da matéria.
Mas a própria pesquisa dos repórteres César Felício e Caio Junqueira demonstra que o impacto variou essencialmente conforme o maior ou menor percentual de famílias beneficiadas pelo programa nos municípios escolhidos como amostra.
Os jornalistas agruparam as localidades selecionadas em três grupos. Na primeira, o benefício alcança de 30% a 60% das famílias. Na segunda, de 60% a 80%. Na terceira, de 80% para mais.
Em todos os municípios, Lula teve mais votos agora do que em 2002. Mas as diferenças são claras como a luz do meio-dia.
Nos lugares comparativamente menos beneficiados, Lula subiu em média de 44% para 47%, apenas 3 pontos, portanto. Nos municípios intermediários, foi de 38% para 66%, com um ganho de 28 pontos portanto. E nos municípios do topo, saltou de 37% para 78%. Ou seja, um acréscimo de 41 pontos!
É o grau de penetração do programa que faz a diferença, ora pois. E se ele é maior no Nordeste, como indica a reportagem, é porque ali o contingente de necessitados é igualmente maior.
Ou muito me engano, ou é simples assim.
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